Páginas

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012


IDIOSSINCRASIA

 É da própria natureza humana enxergar as coisas de maneira particular, como se ao invés de uma só e inarredável realidade, fossem diversas delas. Eis a idiossincrasia humana, capaz de verificar diferentes conteúdos em um só fato, o que traz a tona uma verdade um tanto irrevelada: a de que as coisas não são exatamente como as vemos, sendo por isso sempre parciais as observações e conclusões que sacamos dos acontecimentos. Bem apropriadas neste contexto a máxima do jornalismo que impõe a verificação das diversas versões sobre os fatos apurados, já pressupondo, assim, a relatividade imanente a todas as verdades.
                        Presente observação conduz à necessidade de uma postura mais humilde de todos nós diante dos fatos do cotidiano. Quantas vezes não buscamos impor nossa realidade em face dos outros, pretendendo sermos mais sábios ou cultos que nosso próximo? Quantas outras não confiamos termos melhores conhecimentos, esquecendo-se completamente da provisoriedade mesmo inerente a todos os postulados humanos? Sobretudo a ciência, como saber, conhece ainda muito pouco da realidade humana e física das coisas. Sobretudo da realidade humana, de maneira que, apesar dos inegáveis avanços que oferece à civilização, ainda não domina todas as leis da natureza. Maiores equívocos ainda comete quando se propõe a infundir-se na natureza etérea do ser humano, pois há muito de nós mesmos que nem os homens nem sua ciência conhecem. Talvez as religiões tenham algo de verdadeiro a apresentar, inclusive naquilo em que são contrastadas pela ciência. Talvez mesmo exista uma potência desconhecida dentro de cada um de nós, fonte ainda não revelada de muitos poderes e artes, razão de muitos fatos que, por ignorância própria a nós mesmos, chamamos genericamente de milagres. Talvez, enfim, os milagres sejam apenas a realização de leis naturais desconhecidas ainda de nós próprios.
                        A conquista do conhecimento, para muito além de uma necessidade humana, é valor inarredável a nossa evolução tanto enquanto espécie quanto indivíduos. Porém, porque somos seres imperfeitos e limitados, será este produto de nossas buscas igualmente restrito a nossas próprias forças. Compreender esta limitação é um grande passo evolutivo, pois colocará no seu verdadeiro patamar a importância do que somos, temos e sabemos: sempre seremos, então, provisórios e relativos.
Jorge Emicles Pinheiro Paes Barreto

Nenhum comentário:

Postar um comentário