IDIOSSINCRASIA
É da própria natureza humana enxergar as
coisas de maneira particular, como se ao invés de uma só e inarredável
realidade, fossem diversas delas. Eis a idiossincrasia humana, capaz de verificar
diferentes conteúdos em um só fato, o que traz a tona uma verdade um tanto
irrevelada: a de que as coisas não são exatamente como as vemos, sendo por isso
sempre parciais as observações e conclusões que sacamos dos acontecimentos. Bem
apropriadas neste contexto a máxima do jornalismo que impõe a verificação das
diversas versões sobre os fatos apurados, já pressupondo, assim, a relatividade
imanente a todas as verdades.
Presente observação conduz à necessidade de
uma postura mais humilde de todos nós diante dos fatos do cotidiano. Quantas
vezes não buscamos impor nossa realidade em face dos outros, pretendendo sermos
mais sábios ou cultos que nosso próximo? Quantas outras não confiamos termos
melhores conhecimentos, esquecendo-se completamente da provisoriedade mesmo inerente
a todos os postulados humanos? Sobretudo a ciência, como saber, conhece ainda
muito pouco da realidade humana e física das coisas. Sobretudo da realidade
humana, de maneira que, apesar dos inegáveis avanços que oferece à civilização,
ainda não domina todas as leis da natureza. Maiores equívocos ainda comete
quando se propõe a infundir-se na natureza etérea do ser humano, pois há muito
de nós mesmos que nem os homens nem sua ciência conhecem. Talvez as religiões
tenham algo de verdadeiro a apresentar, inclusive naquilo em que são
contrastadas pela ciência. Talvez mesmo exista uma potência desconhecida dentro
de cada um de nós, fonte ainda não revelada de muitos poderes e artes, razão de
muitos fatos que, por ignorância própria a nós mesmos, chamamos genericamente
de milagres. Talvez, enfim, os milagres sejam apenas a realização de leis
naturais desconhecidas ainda de nós próprios.
A conquista do conhecimento, para muito além
de uma necessidade humana, é valor inarredável a nossa evolução tanto enquanto
espécie quanto indivíduos. Porém, porque somos seres imperfeitos e limitados,
será este produto de nossas buscas igualmente restrito a nossas próprias
forças. Compreender esta limitação é um grande passo evolutivo, pois colocará
no seu verdadeiro patamar a importância do que somos, temos e sabemos: sempre seremos,
então, provisórios e relativos.
Jorge Emicles Pinheiro
Paes Barreto
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