HÁ
O JOIO E HÁ O TRIGO
É próprio dos fins de governo (muito mais
ainda em se tratando do melancólico fim da atual administração do Crato, fragorosamente
derrotada pelas urnas e patentemente desacreditada pela massa da população, já
tão afligida depois de tantos e sofridos anos de desilusões) achar que não há
legados do presente que precisem ser preservados no futuro. Não é pela injustiça,
porém, que se corrigirá o padecimento pretérito. Se o atual governo fracassou
no mais elementar que seja tratamento à saúde e a outros serviços básicos para
com a população, há pelo menos um dado positivo que se pode apresentar como um
grande patrimônio para a cidade, anunciando que afinal de contas é possível sim
nutrir esperança em um futuro melhor. Trata-se do isolado exemplo do
soerguimento da companhia de água e esgotos do Crato, a nossa SAAEC.
Quem tem memória recordará que oito anos
atrás, a SAAEC era exemplo de má gestão, apresentando-se como uma empresa
deficitária, envolvida em corrupção e que prestava um serviço da pior
qualidade. Falava-se até mesmo em privatização da sociedade de economia mista,
inclusive porque todos os seus administradores até aquele tempo tiveram suas
contas desaprovadas pelo Tribunal de Contas dos Municípios, quase que num
atestado de que eram, no mínimo, ineptos para gerenciar problema tão complexo. De
lá para cá, no entanto, testemunhamos uma profunda e positiva transformação,
pois hoje todos os gargalos legais, administrativos e financeiros foram
sanados, existindo agora uma empresa hígida, com suas contas em dia, livre de
denúncias de corrupção e apta a prestar bons serviços à população. Um levantamento
das reclamações sobre falta de água que eram feitos à época e hoje, bastaria
para a verificação de que a SAAEC efetivamente encontra-se melhor presentemente
que no início do governo que se finda.
E tudo isso tem um responsável. Trata-se de
uma figura séria e taciturna, por detrás da qual se esconde um competente
técnico, cuja honestidade está bem acima da média. E foram exatamente estas
características que o permitiram implementar as ações indispensáveis ao
saneamento da empresa, pois para trazer a SAAEC de volta à condição de mínima
saúde financeira, foi necessário dizer muitos não a políticos e senhoras
imponentes da sociedade local, cobrando os serviços que eram prestados (sem os
conhecidos favores aos amigos do poder), renegociando as antigas dívidas, que
se sabe superam em muito os cinco milhões de reais, fazendo concurso para novos
empregados, desembaraçando bens indevidamente onerados (haviam até poços que
teriam sido penhorado mediante o conveniente silêncio dos gestores da época) e
conseguindo fontes de financiamento para implementar a melhoria e expansão da
rede de abastecimento.
Eis o perfil e os serviços prestados ao Crato
pelo atual presidente da SAAEC, José das Graças Procópio da Silveira cuja
história de vida em si mesmo merece respeito, pois trata-se de menino pobre,
ex-jogador de futebol que tornou-se engenheiro e participou de muitas
importantes obras, dentre as quais sendo a de maior destaque a do canal do
trabalhador (aquela famosa obra, construída em tempo recorde quando Ciro Gomes
era Governador do Ceará e que salvou Fortaleza do desabastecimento iminente de
água). Pois foi ele o eleito para a quase impossível missão de sanear a
desregrada empresa de água do Crato. Apesar de todas as dificuldades,
conhecidas somente por quem viveu o cotidiano da empresa nos últimos oito anos,
conseguiu seu intento, mesmo com a dificuldade extra de ter de enfrentar o
preconceito da elite local, pois não era da terra e não prestava favores
escusos, dos quais estavam tão mau habituados, e aos quais mesmo se poderá
atribuir importante parcela do descalabro da empresa.
A história do engenheiro Procópio à frente da
SAAEC traz importantes lições aos futuros administradores municipais,
notadamente no sentido de que com seriedade, trabalho, zelo, ética, grandeza de
espírito para não se deixar tentar pelas armadilhas colocadas pelos próprios
aliados e sobretudo com retidão de propósito e de ação, sem se permitir desviar
do objetivo central, é sim possível modificar a triste realidade em que vive o
Crato. Mas também fica a lição de que esta opção conduzirá a críticas
desmedidas, revoltadas até, por parte dos que não puderem mais se beneficiar
abusivamente da máquina pública. Sobretudo, se realmente a opção por uma nova
dinâmica administrativa for adotada, não se espere gratidão nem reconhecimento.
Ainda assim, fica a lição de que é possível fazer o correto.
Jorge Emicles Pinheiro
Paes Barreto
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