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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012


HÁ O JOIO E HÁ O TRIGO

É próprio dos fins de governo (muito mais ainda em se tratando do melancólico fim da atual administração do Crato, fragorosamente derrotada pelas urnas e patentemente desacreditada pela massa da população, já tão afligida depois de tantos e sofridos anos de desilusões) achar que não há legados do presente que precisem ser preservados no futuro. Não é pela injustiça, porém, que se corrigirá o padecimento pretérito. Se o atual governo fracassou no mais elementar que seja tratamento à saúde e a outros serviços básicos para com a população, há pelo menos um dado positivo que se pode apresentar como um grande patrimônio para a cidade, anunciando que afinal de contas é possível sim nutrir esperança em um futuro melhor. Trata-se do isolado exemplo do soerguimento da companhia de água e esgotos do Crato, a nossa SAAEC.
                        Quem tem memória recordará que oito anos atrás, a SAAEC era exemplo de má gestão, apresentando-se como uma empresa deficitária, envolvida em corrupção e que prestava um serviço da pior qualidade. Falava-se até mesmo em privatização da sociedade de economia mista, inclusive porque todos os seus administradores até aquele tempo tiveram suas contas desaprovadas pelo Tribunal de Contas dos Municípios, quase que num atestado de que eram, no mínimo, ineptos para gerenciar problema tão complexo. De lá para cá, no entanto, testemunhamos uma profunda e positiva transformação, pois hoje todos os gargalos legais, administrativos e financeiros foram sanados, existindo agora uma empresa hígida, com suas contas em dia, livre de denúncias de corrupção e apta a prestar bons serviços à população. Um levantamento das reclamações sobre falta de água que eram feitos à época e hoje, bastaria para a verificação de que a SAAEC efetivamente encontra-se melhor presentemente que no início do governo que se finda.
                        E tudo isso tem um responsável. Trata-se de uma figura séria e taciturna, por detrás da qual se esconde um competente técnico, cuja honestidade está bem acima da média. E foram exatamente estas características que o permitiram implementar as ações indispensáveis ao saneamento da empresa, pois para trazer a SAAEC de volta à condição de mínima saúde financeira, foi necessário dizer muitos não a políticos e senhoras imponentes da sociedade local, cobrando os serviços que eram prestados (sem os conhecidos favores aos amigos do poder), renegociando as antigas dívidas, que se sabe superam em muito os cinco milhões de reais, fazendo concurso para novos empregados, desembaraçando bens indevidamente onerados (haviam até poços que teriam sido penhorado mediante o conveniente silêncio dos gestores da época) e conseguindo fontes de financiamento para implementar a melhoria e expansão da rede de abastecimento.
                        Eis o perfil e os serviços prestados ao Crato pelo atual presidente da SAAEC, José das Graças Procópio da Silveira cuja história de vida em si mesmo merece respeito, pois trata-se de menino pobre, ex-jogador de futebol que tornou-se engenheiro e participou de muitas importantes obras, dentre as quais sendo a de maior destaque a do canal do trabalhador (aquela famosa obra, construída em tempo recorde quando Ciro Gomes era Governador do Ceará e que salvou Fortaleza do desabastecimento iminente de água). Pois foi ele o eleito para a quase impossível missão de sanear a desregrada empresa de água do Crato. Apesar de todas as dificuldades, conhecidas somente por quem viveu o cotidiano da empresa nos últimos oito anos, conseguiu seu intento, mesmo com a dificuldade extra de ter de enfrentar o preconceito da elite local, pois não era da terra e não prestava favores escusos, dos quais estavam tão mau habituados, e aos quais mesmo se poderá atribuir importante parcela do descalabro da empresa.
                        A história do engenheiro Procópio à frente da SAAEC traz importantes lições aos futuros administradores municipais, notadamente no sentido de que com seriedade, trabalho, zelo, ética, grandeza de espírito para não se deixar tentar pelas armadilhas colocadas pelos próprios aliados e sobretudo com retidão de propósito e de ação, sem se permitir desviar do objetivo central, é sim possível modificar a triste realidade em que vive o Crato. Mas também fica a lição de que esta opção conduzirá a críticas desmedidas, revoltadas até, por parte dos que não puderem mais se beneficiar abusivamente da máquina pública. Sobretudo, se realmente a opção por uma nova dinâmica administrativa for adotada, não se espere gratidão nem reconhecimento. Ainda assim, fica a lição de que é possível fazer o correto.
Jorge Emicles Pinheiro Paes Barreto

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