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sexta-feira, 30 de novembro de 2012


PORQUE SOFREMOS

                     Ao mesmo tempo em que buscamos prazer, o que encontramos pela vida são expiações e sofrimentos os mais variados. Para os espiritualistas, seriam lições; para os materialistas a prova da endêmica desigualdade social e individual dos seres humanos. O que é fato é que sofremos, mas também nos fortalecemos pela dor, que ao final das contas traz sim indeléveis lições daquilo que nos causa sabor ou sofrimento. As leis da natureza se nos apresentam também válidas para a vida e moral que emprenha de sentido esta existência nossa de cada dia, pois resta comprovado que a lei da causa e efeito aplica-se inexoravelmente também às cousas da existência. O mesmo dar-se-ia com a seleção natural, pois que se os fortes sobrepõe-se, primeiro tiveram de passar auguras para tornar-se fortes. Também se os líderes comandam bem, seja uma sociedade organizada e culta, seja um exército cândido de obediência, é porque a dor lhes ensinou de antemão o valor da disciplina e da persistência. Logo, para sermos fortes, primeiro teremos de ser fracos; para sermos sábios, antes teremos de ser tolos e para galgarmos a paz de espírito, de antemão é preciso viver as tormentas da dúvida e da desilusão.
                     No fim, a certeza da experiência empírica (mais sábia de todas as certezas, porque fruto da prática mais lídima, incorrompível e não manipulável) afirma que pouco ou muito o fato indeclinável da vida é que sofremos. Os que sentem menos dor ou são mais astutos observadores ou merecedores de melhores azares que os outros. Porém mesmo estes sofrem e crescem com a dor. Cada dor tem sua potência e o tamanho dela é aquele que lhe emprestemos. Não façamos como Cunegundes, personagem de Voltaire em seu Cândido, que se achava a mais sofrida das criaturas, quando vizinho a si mesma, a velha senhora que placidamente a servia tinha já passados por infortúnios bem piores que o da heroína trôpega do sarcástico romance.
                     Vivamos com obstinação e nos perguntando a cada tropeço o que a vida se oportuniza a nos ensinar e não lamentando os infortúnios que se nos tenham alcançado. Viver sempre valerá a pena, por mais que já tenhamos perdido pessoas e coisas valiosas. Não seremos os únicos a contabilizar estas perdas, pois junto a nós estarão os vencedores, os sábios e os fortes.
Jorge Emicles Pinheiro Paes Barreto

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