PORQUE
SOFREMOS
Ao mesmo tempo em que buscamos prazer, o que
encontramos pela vida são expiações e sofrimentos os mais variados. Para os
espiritualistas, seriam lições; para os materialistas a prova da endêmica
desigualdade social e individual dos seres humanos. O que é fato é que
sofremos, mas também nos fortalecemos pela dor, que ao final das contas traz
sim indeléveis lições daquilo que nos causa sabor ou sofrimento. As leis da natureza
se nos apresentam também válidas para a vida e moral que emprenha de sentido
esta existência nossa de cada dia, pois resta comprovado que a lei da causa e
efeito aplica-se inexoravelmente também às cousas da existência. O mesmo
dar-se-ia com a seleção natural, pois que se os fortes sobrepõe-se, primeiro
tiveram de passar auguras para tornar-se fortes. Também se os líderes comandam
bem, seja uma sociedade organizada e culta, seja um exército cândido de
obediência, é porque a dor lhes ensinou de antemão o valor da disciplina e da
persistência. Logo, para sermos fortes, primeiro teremos de ser fracos; para
sermos sábios, antes teremos de ser tolos e para galgarmos a paz de espírito, de
antemão é preciso viver as tormentas da dúvida e da desilusão.
No fim, a certeza da experiência empírica (mais
sábia de todas as certezas, porque fruto da prática mais lídima, incorrompível
e não manipulável) afirma que pouco ou muito o fato indeclinável da vida é que
sofremos. Os que sentem menos dor ou são mais astutos observadores ou
merecedores de melhores azares que os outros. Porém mesmo estes sofrem e
crescem com a dor. Cada dor tem sua potência e o tamanho dela é aquele que lhe
emprestemos. Não façamos como Cunegundes, personagem de Voltaire em seu Cândido,
que se achava a mais sofrida das criaturas, quando vizinho a si mesma, a velha
senhora que placidamente a servia tinha já passados por infortúnios bem piores
que o da heroína trôpega do sarcástico romance.
Vivamos com obstinação e nos perguntando a cada
tropeço o que a vida se oportuniza a nos ensinar e não lamentando os infortúnios
que se nos tenham alcançado. Viver sempre valerá a pena, por mais que já
tenhamos perdido pessoas e coisas valiosas. Não seremos os únicos a
contabilizar estas perdas, pois junto a nós estarão os vencedores, os sábios e
os fortes.
Jorge Emicles Pinheiro Paes Barreto
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