AOS
AMIGOS, COM CARINHO
Jorge Emicles Pinheiro
Tanto quanto são infinitas as formas de compreender a
vida, igualmente são as de enfrentar suas adversidades. Até que estejamos
concretamente diante de um obstáculo, em verdade não sabemos de que forma o
enfrentaremos. Até que sintamos a dor, não saberemos a verdadeira dimensão do
sofrimento.
É o instinto (talvez vindo de Deus, talvez da mera
condição animal) que nos ensina a lutar pela sobrevivência. Por pior que
estejam as coisas sempre preservar-se vivo será a melhor saída, mesmo que o
sopro de vida que restar não possua mais viço ou qualidade. A esperança é a
última que morre: eis um ditado o qual bem poderia representar a eterna luta
que somos socialmente treinados a travar com a morte. Pouco importa o
sentimento que demos à nossa vida, desde que cotidianamente suplantemos o
fantasma e a certeza da morte. Por finitos que sejamos, é na crença da
imortalidade que consumimos cada instante de nossa tênue existência.
Nas dificuldades (nas mais temíveis principalmente) é
este o instante que todos os que nos são próximos buscam nos alimentar. A
qualquer custo que for, vença a morte, insista na sua própria imortalidade,
porque assim estarás evidenciando não apenas sua infinita fortaleza como também
alimentando de esperança todo o restante da humanidade.
Porém, uma vez que são muitas as formas de viver as
augrúrias da existência, um dissabor pode ser encarado por infinitas maneiras.
Variações que de ordinário dependerão da forma com que se interpreta o mundo,
assim como este mesmo mundo reage face a seu sofrimento. Diante da enfermidade,
fui cercado pela calorosa luz da compaixão e da amizade; fui encharcado pela
inebriante energia do amor sincero, passional mas desinteressado de centenas de
pessoas que me infligiram desejos de saúde plena e pronto restabelecimento.
Quem nada me devia senão estima gratuita me emprestou
dessa luz; quem talvez me devesse algo, mas que não poderia ser cobrado em
razão do meu próprio estado de fragilidade, sem nada querer pagar igualmente me
cedeu desta luz; quem imaginei que pelos descaminhos da vida nem mais se
lembrasse de mim, da mesma forma me encandeou desta revigorante luminosidade;
de quem não esperava carícias me afagou pelo amor; de quem esperava estas
carícias, me as trouxe com muito mais generosidade que merecia; quem
decepcionei me afagou com o perdão; quem não pude ajudar, me retribuiu com a
solidariedade; quem pouco conhecia, me abraçou com ardor e os antigos e
verdadeiros amigos permaneceram incontinenti em apoio.
Jamais havia sentido energia tão pujante e verdadeira.
Nas lágrimas destas centenas de amigos angariei a força do destemor; na
honestidade de seus abraços adquiri a coragem da vitória; na fortaleza de suas
palavras (escritas ou faladas) a energia da revitalização. É esta a verdadeira
alquimia. A chave da pedra filosofal tão empenhadamente buscada pelos antigos
filósofos. Tão plena, enfim, estava minha alma desta saborosa energia, que dali
seria capaz de enfrentar todos os obstáculos que se pudessem interpor no meu
caminho, fossem quais fossem as conseqüências do mal que me afligia.
A vida, a morte e esta infindável luta pela eternidade
passaram a ter nenhuma importância a partir de então. Talvez não houvesse
diferença entre uma longa vida e uma morte prematura. Nem uma nem outra
condição garantiria a felicidade. O completar-se dessa pujante e luminosa
energia proveniente do amor e da amizade, sim, representam o verdadeiro sentido
e mistério da vida. Por isto mesmo que pouco importava a vida ou a morte, pois
tanto pela vida longa quanto pela breve morte estarei sempre repleto daquela
energia vital e eterna que preenche todos os planos da existência, seja
material ou não.
Aos amigos, além destas palavras, somente posso agradecer
com o compromisso de distribuir a tantos quanto se apresentem, com o mesmo
calor revigorante de que fui já embebido por sua generosa luz.
Lhes sou profunda e eternamente grato por tudo! Muito
obrigado!
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