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domingo, 1 de julho de 2018


OLVIDO
POESIA EM PROSA


Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.
Carlos Drummond de Andrade


                   O fogo sufocante das lembranças restela a memória das coisas findas. O que foi; quem não é; aquilo que poderia ser, ainda. As labaredas da história fazem reviver em vibrantes cenas o que já se foi, soltando com desassossego as cadenas que prendem a ação terminada. Mas, se na memória algo vive, não significa que ainda nalgum canto persiste? Sentimento sobrevive simplesmente porque existe?
                   Que fazer com o passado que não está no presente nem ao futuro poderá ser legado? Que se dalgum modo está morto, ainda não foi enterrado? Que fazer com o ocaso de um alguém em nós já sepultado?
                   Negar o pretérito que fomos, isso não pode. Se omitir da essência transforma ela em doença. Muito menos se pode repisar eternamente a dor. Afinal, tudo somos e temos provisoriamente. Eterno mesmo só o infinito sentimento do amor.
                   Não se nega o que já foi. Mas também não se prende ao que se foi. Se guarda, enriquecendo as lembranças, a dor transformando em esperança; as lágrimas transmudando em perseverança. Da mais terrível dor, fazendo brotar a beleza do mais puro amor.      Tudo isso com calma e leveza.
                   É assim que se chega à realiza.

Jorge Emicles
                  

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