OLVIDO
POESIA
EM PROSA
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.
Carlos
Drummond de Andrade
O fogo sufocante das lembranças restela a memória
das coisas findas. O que foi; quem não é; aquilo que poderia ser, ainda. As
labaredas da história fazem reviver em vibrantes cenas o que já se foi,
soltando com desassossego as cadenas que prendem a ação terminada. Mas, se na
memória algo vive, não significa que ainda nalgum canto persiste? Sentimento
sobrevive simplesmente porque existe?
Que fazer com o passado que não está no presente
nem ao futuro poderá ser legado? Que se dalgum modo está morto, ainda não foi
enterrado? Que fazer com o ocaso de um alguém em nós já sepultado?
Negar o pretérito que fomos, isso não pode. Se
omitir da essência transforma ela em doença. Muito menos se pode repisar
eternamente a dor. Afinal, tudo somos e temos provisoriamente. Eterno mesmo só
o infinito sentimento do amor.
Não se nega o que já foi. Mas também não se prende
ao que se foi. Se guarda, enriquecendo as lembranças, a dor transformando em
esperança; as lágrimas transmudando em perseverança. Da mais terrível dor,
fazendo brotar a beleza do mais puro amor. Tudo
isso com calma e leveza.
É assim que se chega à realiza.
Jorge
Emicles
Nenhum comentário:
Postar um comentário