CAMINHOS
DA SALVAÇÃO
Apesar de ser chamada por ciência, a razão é uma
das coisas menos presente na política. Principalmente, se verificada a partir
das milhares de milhões de postagens encontradas nas diversas redes sociais,
marca tão indelével da presente modernidade que nos consome às vezes a própria condição
humana.
Por trás de cada verdade apresentada com a contundência
das imagens e frases de efeito, é forçoso admitir, se escondem as velhas e
arraigadas ideologias de sempre. Qual deverá ser o papel do Estado, máximo e
prestador de serviços os mais variados, o responsável último pela felicidade
geral da nação e particular de cada cidadão? Mínimo, garantidor da ordem,
basicamente, e pela sua própria pequenez, incapacitado de surripiar as riquezas
da nação através da corrupção e tolhido largamente na condição de perpetrar
arbítrios das mais sutis naturezas?
O que quase ninguém percebe é que, por traz dos
dois caminhos centrais, quase desvelado, mas silente sempre, nos depararemos
com o velho e sórdido Estado. Sempre ele nos amaldiçoará com sua tez de
Leviatã, que consome os corajosos navegantes que ousem ir além do Cabo Bojador.
Será mesmo que não existirá um terceiro caminho, construído com disciplina e
ordem, mas também com amor, respeito e igualdade? Humildemente, acreditamos que
sim.
Todas essas míopes visões do mundo se refletem sem
titubeio nas análises do assunto do momento: Lula poderá ou não vir a ser candidato
à Presidência da República no corrente ano? Para os seus asseclas, há uma
sórdida conspiração política construída contra o petista, pois as elites não o
perdoarão jamais por haver alimentado os pobres, emprestando-lhes uma dignidade
que, dizem, jamais tiveram. Para seus adversários, contudo, a corrupção grassou
em seu governo, alimentando uma perigosa máquina partidária que pretendia se
manter eternamente no poder às custas do sofrido erário. Foram as suas irresponsáveis
concessões populistas, aduzem, que teriam conduzido o país à tenebrosa crise do
presente.
Mas e se todos esses pontos de vista estiverem
certos? E se o mundo inteiro estiver errado? Será mesmo que a pobreza já teve algum
dia tanta dignidade quanto dizem? Mas, afinal, a corrupção, a
irresponsabilidade fiscal e a falta de compromisso sério com a economia nunca
antes haviam sido praticadas em nosso país? Lula não inventou a corrupção, mas
seu governo a praticou. E certamente já tivemos governos bem piores e mais
populistas que o seu. Será mesmo que ninguém mais recorda da sórdida campanha da
mídia, liderada por Carlos Lacerda, contra o decadente governos Vargas do ano
de 1954? Todos mesmo haverão esquecido dos crimes cometidos nos idos da
ditadura militar brasileira? Haverá cristão que ainda recorde do banditismo que
grassou aqui mesmo, no Cariri, há pouco mais de cem anos, nos decantados e
romanceados tempos dos coronéis?
O populismo, a demagogia, o arbítrio e a hipocrisia
são características da humanidade, não exclusividade de certos, determinados e
bem especificados homens públicos.
O combate à corrupção deverá ser luta perene dos
cidadãos honestos. Quimera dos homens de bem. Mas a forma com que se a combate
também deverá ser séria, pautada na ética, alicerçada nos valores universais do
bem, da justiça e da verdade. Tudo sempre com amor fraternal. Nesse sentido,
então, verificamos que à guisa de punir os maus feitos dos políticos
desonestos, não poucas autoridades constituídas praticam atos abusivos,
desrespeitando direitos fundamentais e comezinhos, daqueles essenciais mesmo à
própria preservação da dignidade humana. Tantas vezes, em nome de uma hipócrita
e enganosa justiça, desobedecem até mesmo a letra escorreita, clara e
inequívoca da lei. Mas, perguntamos, será mesmo possível fazer justiça sem um
processo justo, democrático, galgado nos valores republicanos, que por isso
respeite a essência do direito ao contraditório, a possibilidade de através da
amplitude de defesa se convencer o julgador das razões de atos, da veracidade
de fatos?
A autoridade pública que desrespeita os direitos
fundamentais não estará ela própria a praticar ilícito, que tem cheiro de crime
de abuso de poder? E, por esse praticado, não terá tanto quanto o sentenciado,
cometido ato desonesto, uma sórdida forma de corrupção?
É preciso cuidado com tudo isso.
Mas nem sabemos bem para que escrevemos essas
palavras, perdidas que restarão no congestionado tráfico de dados da infinita
internet. Ainda assim, mesmo quase sabendo da inutilidade delas, os dedos
seguem em frenético ato de digitar. Talvez Victor Hugo estivesse mesmo certo,
pois eu devo estar cego, porque eles são
surdos e eu continuo falando...
Jorge
Emicles
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