A
TI BUSCO, AINDA
A lua cheia, inteira e vibrante que vi brotar do escuro
misterioso do espaço sideral só é bela, plena e luminosa quando, para muito
além da luz branca e serena que irradia também alumia a escuridão da tristeza e
o negrume da desolação que alimenta o espírito e os medos de tantos e tantos.
O sol somente é radiante, quando para além da
fotossíntese de que é causa, igualmente se torna o alimento do porvir eterno da
esperança; do recomeço e da certeza de que ainda maior que as vezes em que
erramos, serão as oportunidades de acerto e a fé na correção.
Não adianta a dureza da vida a ronhosamente
ensinar da traição; fundamentando a desolação; dando pretexto à solidão. Não
convencem, simplesmente não convencem as coleções de dramas que tantos
sacrifícios e dores impõem ao coração do homem. As lições dos fracassos e a dor
do abandono apensas não amainam o espírito de ninguém; não dignificam o
sofrimento nem conformam pelos fracassos. As derrotas tão somente alimentam a
esperança da vitória; pois se justificam exclusivamente enquanto o necessário
preço do sucesso final.
Se morrermos antes do júbilo derradeiro, então é
porque a morte não foi de fato e daqui ou de alhures seguiremos alimentando a
mesma teimosa, irracional e irresistível esperança. Por mais que sejas
impossível, ainda mais te desejamos, pois viver sem esta vontade é morrer de
verdade.
Pois não adiantam os anos de tanta vida. Não
servem os desterros. Não alimentam as lágrimas nem reconfortam as demais
conquistas. Não desistiremos de ti jamais, pois abrir mão dessa vontade é
tornar sem sentido tudo o mais à volta. De que valerão tantas cicatrizes? para
que servirão este tanto de desprazeres que suportamos ao longo da vida inteira,
mesmo antes e depois dela, se a vontade de tua conquista se transmudar no
fracasso ou no impossível? Enquanto a fé permitir que a vida flua no meio das
tênues batidas dos nossos corações e na indelével vibração dos nossos
pensamentos estiveres a alimentar este suave e desapressado desejo de ti, tudo
fará sentido e tudo terá valido a pena.
Mesmo que nossa vontade seja tão imensa e mesmo
que por isso sucumbamos na tua busca, cada segundo e cada sacrifício dedicado à
tal procura terá sempre sido o melhor fazer dentre todas as coisas possíveis e
impossíveis da existência.
Por que nome te chamamos? Podes ser sabedoria;
felicidade, paz de espírito; iluminação. Podes ainda ser a esperança contumaz,
tantas vezes ingênua, que somente encontramos na fé. Podes sem dúvidas ser o
amor, o mais sublime, pujante e perfeito de todos os sentimentos.
E podes estar sintetizada, com todas essas
qualidades reunidas em uma só e mesma criatura, nos doces, caridosos e
sensíveis braços de uma mulher qualquer, passante anônima e desimportante de
uma rua estreita e mal ladrilhada, em um canto esquecido do mundo, do qual
nunca se falou e para onde jamais desejamos ter ido...
Jorge
Emicles Pinheiro Paes Barreto
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