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sábado, 11 de julho de 2015


A DUALIDADE QUE ME HABITA – POESIA EM PROSA



                   De dentro de mim mesmo, o mundo enevoado que me habita (talvez o mundo enevoado que sou eu mesmo habitando o etéreo límpido e claro da existência); mas sempre, de dentro de mim mesmo um infinito de sentimentos que às vezes sufocam, outras extravasam e pululam, pretendendo se fazer ver diante da infinidade cósmica.
                   Olhando de mim para o mundo, sou uma individualidade, um ser completo, eterno, que busca a perfeição do mundo pela compreensão da indissolubilidade do éter. Já eu visto do mundo, no meio de tantos bilhões de galáxias; escondido num pueril e desimportante canto olvidado do Universo, sou bem menor que o esquecimento. Sem mim, o mundo não perde uma centelha que seja de sua infinidade e perfeição; continua sendo ele mesmo, tal qual sempre foi, completo e inesgotável. Já eu sem o universo nenhuma coisa sou; transmudado que estarei em nada imiscuído dentro de um nada mais infinito ainda. Nada multiplicado à potência infinita...
                   Quando estou alegre, ensimesmado de minha própria importância em face das coisas dos homens; me pretendendo genial, capaz de contribuir positivamente na obstinada construção de um futuro humano digno e promissor, é porque estou olhando de dentro para fora. Já quando estou triste, realisticamente me compreendendo desimportante, achando ínfimo e sem sentido as ideias que possam me habitar, as criações com que possa legar à ciosa raça dos homens, é porque estou olhando do infinito cósmico para a microscópica dimensão de meu irrelevante ser.
                   E quem sou, afinal? As duas coisas, diria. E nessa resposta não existe qualquer tentativa de dissimular a verdade; de se emprestar qualquer importância suplementar à flagrante desimportância que tenho eu e todos nós diante das grandezas infinitas de que somos milimétricos e quase desprezíveis fragmentos. Na verdade, é porque somos uma dualidade por sua própria natureza. Enquanto espécie, somos macho e fêmea. Enquanto seres, somos matéria e espirito. Enquanto humanos, somos bons e maus. Enquanto potestade, somos criadores e criaturas. Somos a potência do que está no alto ao mesmo tempo que a delicadeza do que está em baixo. Somos a tristeza da pequenez de nosso ser ao mesmo tempo que a alegria da consciência da imensidão da obra cósmica.
                   Em sendo duais, a harmonia da nossa existência se encontra na consciência do necessário equilíbrio das duas partes que nos habita, pois é nesse equilíbrio onde, alijados do ego, poderemos encontrar a verdadeira essência de nós mesmos...

Jorge Emicles Pinheiro Paes Barreto

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