A DUALIDADE QUE ME
HABITA – POESIA EM PROSA
De dentro de mim mesmo, o
mundo enevoado que me habita (talvez o mundo enevoado que sou eu mesmo
habitando o etéreo límpido e claro da existência); mas sempre, de dentro de mim
mesmo um infinito de sentimentos que às vezes sufocam, outras extravasam e pululam,
pretendendo se fazer ver diante da infinidade cósmica.
Olhando de mim para o mundo,
sou uma individualidade, um ser completo, eterno, que busca a perfeição do
mundo pela compreensão da indissolubilidade do éter. Já eu visto do mundo, no
meio de tantos bilhões de galáxias; escondido num pueril e desimportante canto
olvidado do Universo, sou bem menor que o esquecimento. Sem mim, o mundo não
perde uma centelha que seja de sua infinidade e perfeição; continua sendo ele
mesmo, tal qual sempre foi, completo e inesgotável. Já eu sem o universo
nenhuma coisa sou; transmudado que estarei em nada imiscuído dentro de um nada
mais infinito ainda. Nada multiplicado à potência infinita...
Quando estou alegre,
ensimesmado de minha própria importância em face das coisas dos homens; me
pretendendo genial, capaz de contribuir positivamente na obstinada construção
de um futuro humano digno e promissor, é porque estou olhando de dentro para
fora. Já quando estou triste, realisticamente me compreendendo desimportante,
achando ínfimo e sem sentido as ideias que possam me habitar, as criações com
que possa legar à ciosa raça dos homens, é porque estou olhando do infinito
cósmico para a microscópica dimensão de meu irrelevante ser.
E quem sou, afinal? As duas
coisas, diria. E nessa resposta não existe qualquer tentativa de dissimular a
verdade; de se emprestar qualquer importância suplementar à flagrante
desimportância que tenho eu e todos nós diante das grandezas infinitas de que
somos milimétricos e quase desprezíveis fragmentos. Na verdade, é porque somos
uma dualidade por sua própria natureza. Enquanto espécie, somos macho e fêmea.
Enquanto seres, somos matéria e espirito. Enquanto humanos, somos bons e maus.
Enquanto potestade, somos criadores e criaturas. Somos a potência do que está
no alto ao mesmo tempo que a delicadeza do que está em baixo. Somos a tristeza
da pequenez de nosso ser ao mesmo tempo que a alegria da consciência da
imensidão da obra cósmica.
Em sendo duais, a harmonia da
nossa existência se encontra na consciência do necessário equilíbrio das duas
partes que nos habita, pois é nesse equilíbrio onde, alijados do ego, poderemos
encontrar a verdadeira essência de nós mesmos...
Jorge Emicles
Pinheiro Paes Barreto
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