O
PREÇO DA INGRATIDÃO
No presente ano, a URCA – Universidade Regional do
Cariri – comemora vinte e nove anos de sua fundação, ocorrida no longínquo
junho de 1986, ao encampar os cursos da Faculdade de Filosofia de Crato
(patrimônio da Fundação Padre Ibiapina) e os cursos de Direito e Economia da
UECE. Àqueles idos, caminhar pelos corredores da neófita universidade trazia um
ar um tanto desolador de se estar visitando um escolão e não propriamente uma
universidade. Ao longo dos anos seguintes, entretanto, a URCA cresceu em todos
os sentidos. Qualificou-se como instituição, expandindo largamente seu espaço
de atuação, possuindo hoje campi em diversos Municípios e várias Unidades
Descentralizadas. Seu professorado é cada vez mais profissionalizado, tendo em
seu quadro um reconhecido número de mestres e doutores. Apesar da carência de
professores efetivos em alguns de seus departamentos, seu corpo docente na
atualidade é imensamente melhor qualificado que ao tempo de sua fundação. O
número, a qualidade e o reconhecimento de seus diversos cursos de graduação e
pós-graduação somente cresceu ao termo dos anos.
Desde a gestão de Plácido Cidade Nuvens, a URCA
fez uma corajosa, mas importante opção ideológica, qual seja a de praticar o
princípio de que é uma universidade pública e gratuita, não possuindo por isso
nenhum curso de graduação pago, ao reverso de outras coirmãs. Por mais que se
pretenda criticar ou denegrir a Universidade Regional do Cariri, nenhum
detrator poderá negar a evidência de que a URCA é gigantescamente maior, melhor
e mais qualificada hoje que foi no seu nascedouro. Na verdade, a Universidade
paga o preço do seu crescimento, pois as charmosas instalações de sua sede
legadas pela administração de Violeta Arraes restaram apertadas para o tamanho
que galgou a instituição. Mesmo o espaço ganho pela ocupação e construções do
que hoje se constitui no chamado campus Pimenta II é insuficiente para abarcar
o tamanho da URCA. Ela quer e precisa crescer, mas não tem para onde.
Porém, de todos os beneficiados pelos serviços
prestados pela URCA, não se poderá duvidar que o maior deles é o Município de
Crato. Foi árdua a luta de seus idealizadores para sediar a universidade na
princesa do Cariri, pois logicamente os benefícios trazidos não somente à economia
como ao desenvolvimento sócio e cultural são evidentes e trouxeram o interesse
e articulações de outros agentes públicos, defensores da tese de que a futura
universidade tivesse sede na vizinha Juazeiro do Norte. Qualquer estudo sério
revelará a inegável importância da Universidade à sobrevivência do Crato como
uma urbe viva, atuante e culturalmente vibrante. Sem a URCA, o Crato somente
afirmaria sua vocação moderna de, ao invés da capital da cultura, ser uma
simples e desimportante cidade dormitório, sem qualquer relevância seja
política, cultural ou econômica. Aquela Crato descrita por Darci Ribeiro, em O Povo Brasileiro – centro da atividade
política e econômica da região e um polo de desenvolvimento nacional – , de a
muito não existe mais.
No entanto, a mesma miopia histórica do pseudossangue
azulado que corre nas veias da soberba elite cratense que lhes fez perder toda
a importância que a terra de Bárbara de Alencar um dia já possuiu, também é
permeada de ingratidão. Mesmo cientes da sufocante situação física em que a sua
universidade se encontra (a sua melhor provedora e única e derradeira fonte de
importância que a história lhe legou) o Crato francamente tolhe o crescimento
da URCA. Em nome da ciosa tradição de uma festa que durante uma semana por ano
lota o parque Pedro Felício e enche a cidade de visitantes, mas também de
lembranças de um tempo que não volta mais, a Universidade Regional finda
espremida em limitado e insuficiente espaço físico, necessitando e ao mesmo
tempo sendo impedida de expandir-se.
A URCA precisa crescer. Para o bem do
desenvolvimento de toda a região do Cariri, a URCA não pode mais se limitar ao
confinamento físico que lhe impuseram. E em face da ausência de importância que
injustificadamente lhe dá o Crato, talvez o melhor caminho para o atendimento
dessa impostergável necessidade seja atravessar os quilômetros da Avenida Padre
Cícero até a vizinha Juazeiro. A história dirá.
Jorge
Emicles Pinheiro Paes Barreto
Professor
da URCA
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