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domingo, 4 de agosto de 2019


UNIVERSOS PARALELOS



                   De repente veio o desejo de engolir todo o vento do mundo. Numa golada sofrida de ar inspirou profundamente, como se houvesse a real necessidade de pôr para dentro de uma única vez todo o oxigênio necessário para a vida inteira. Naturalmente foi frustrado o intento, pois houve um momento, logo no início, em que os pulmões, encharcados de matéria prima pararam de sorvê-la.
                   Mas existiu um tempo em que aquela mesma criatura possuía dilação brônquia imensamente superior. Assim como aptidões aeróbicas bem mais potentes. Era um tempo de vigor físico, mental e espiritual, do qual restara apenas a saudade profunda e a tardia consciência do potentado do qual já foi senhor.
                   Mas e quem seria ele, afinal? Aquele senhor no caminho da senilidade ou o jovem prepotente e forte que guardava nas sedutoras lembranças da juventude que, apesar de inexistente no tempo do presente, era em quem se reconhecia? O pretérito mancebo não poderia estar extinto, pois não haverá ser possível a lembrança do que não existe. Vem de Hermes, afinal, a sabedoria de que no Universo, todas as coisas já estão criadas. É de Platão a evidência de que a essência das coisas é imutável e eterna.
                   Ilusão é perceber o perpassar das coisas.
                   Dentro de cada consciência há todas as coisas de todos os tempos. Estará contido uma infinidade de universos paralelos, de histórias dissonantes e contraditórias, que guardam uma impossível coerência unitária. No um todas as coisas são simples, consistentes e absolutamente conciliáveis.
                   Assim como a consciência da nossa personagem forma uma infinidade de universos que habita harmoniosamente no inesgotável espaço de um coração solitário, também a consciência de todos os outros seres, viventes ou não, encerram a mesma improvável realidade. Somos infinitos de infinitesimais universos.
                   Cada qual com suas incontáveis certezas, verdades e desilusões.
                   Está entre os ensinamentos pitagóricos a fórmula de que o zero, quando multiplicado pelo infinito resulta em um. O Um Criador, fonte primeira de todas as coisas havidas e por haver. Mas e quanto seria a multiplicação da infinidade de universos paralelos pelo infinito de sua quantidade?
                   De novo, teria de resultar no mesmo Um. Naquela unidade que tem cem nomes.
Jorge Emicles

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