O
INSTITUTO CULTURAL DO CARIRI
É marca recorrente da história do Brasil que o
desenvolvimento venha do litoral para o interior. Os sertões, como são mais
constantemente referenciadas as terras de dentro desse país continental. O
Cariri naturalmente não foge desse processo.
De povoamento retardado, segundo as mais reconhecidas
fontes, fomos colonizados por desbravadores vindos da Bahia, os descendentes do
velho Caramuru, o português radicado entre os Tupinambás e de importância
peculiar à colonização brasileira.
Desde os primeiros tempos, contudo, o Cariri
demonstrou vocação própria com relação à cultura, educação e enfrentamento das
mais relevantes questões políticas nacionais. A região é celeiro de antigas
tradições culturais, muitas provenientes da Europa medieval e ainda hoje
preservadas através da tradição oral de dezenas de mestres da cultura. É sede
das primeiras instituições de ensino dos sertões, num importante movimento de
interiorização da educação formal. Aqui, é importante o destaque do centenário
Seminário do Crato. Igualmente teve vez em importantes movimentos políticos
nacionais, como a marcante participação de José Martiniano na Revolução Pernambucana
de 1817 e de seu irmão, Tristão Gonçalves, na Confederação do Equador. Tudo sem
falar no movimento de rebelião e queda do Presidente do Estado, Franco Rabelo,
liderado pelo patriarca de Juazeiro. Isso, apenas para ficarmos em exemplos
tópicos, porque a riqueza da cultura local caberia sem dúvidas em dezenas de
volumosos tomos.
Foram exatamente as características únicas que
marcaram a construção do Cariri que conduziram um grupo de pioneiros, notáveis
estudiosos da história e da diversidade cultural local, a se organizarem nos
moldes de uma academia de ciências. Foi no longínquo outubro de 1953 que a
melhor intelectualidade do Cariri fundou seu instituto de ciências, o Instituto
Cultural do Cariri.
Irineu Pinheiro era um médico com espírito de
pesquisador em história. Não possui nenhum livro sobre as ciências médicas, mas
é impossível compreender a história local sem a consulta à sua rica obra sobre
o Cariri. Médico e amigo pessoal do Padre Cícero, foi também testemunha ocular
de um dos mais impressionantes episódios da história local, o da queda de
Franco Rabelo pelas mãos dos asseclas de Padre Cícero. Foi este médico o
primeiro presidente do Instituto Cultural do Cariri, o ICC. Figueiredo Filho
era boticário, e a partir de sua tradicional farmácia estudava e buscava compreender
o mundo à sua volta, sempre a partir do Cariri. Era outro historiador por
vocação, sendo clássica e inevitável para os estudiosos sérios a visita à sua
História do Cariri, dentre outras importantes produções. É ele o segundo
presidente do ICC. Já o terceiro presidente do Instituto se tratou de figura
bem mais polêmica e ainda mais aguerrida. Sempre, contudo, um profundo estudioso
da história local. Trata-se do padre Antônio Gomes de Araújo, cujo texto mais polêmico
e até hoje referenciado nas modernas pesquisas a respeito da historiografia
local foi publicado na Revista Itaytera, publicação oficial do ICC. A referência
é ao artigo intitulado Apostolado do
Embuste, através do qual pretende desmascarar o famoso milagre da conversão
da hóstia em sangue, atribuído ao padre Cícero e analisado em ampla historiografia.
Opiniões e polêmicas a parte, o fato é que o
Instituto Cultural do Cariri chega à sua terceira geração de acadêmicos, todas
elas comprometidas com o desenvolvimento da ciência e progresso da região.
Tanto os críticos quanto os admiradores dos trabalhos do ICC não poderão negar
a importância dos trabalhos por ele capitaneados para a preservação das fontes
históricas e compreensão dos diversos períodos históricos do Cariri cearense.
Nenhum pesquisador sério da história local poderá recusar o ICC e sua contínua
produção como a mais rica fonte sobre o Cariri. A biblioteca do Instituto ainda
hoje guarda relíquias inigualáveis.
Só isso já bastaria para justificar os festejos
dos sessenta e cinco anos do Instituto.
Mas a moderna geração de acadêmicos que atualmente
se encontra à frente dos destinos do longevo ICC, ao mesmo tempo em que busca
preservar esse insubstituível legado, procura olhar para a frente. Os tempos
são outros e as demandas da atualidade impõem um movimento de maior integração
das atividades do Instituto com toda a produção acadêmica hoje ainda mais rica
do Cariri. É tempo de estabelecer parcerias mais profícuas com as instituições
de ensino do Cariri, como as universidades públicas e privadas que pululam nas
suas principais cidades; mas também de atuar com maior desenvoltura em todos os
municípios da região.
O tempo é o de olhar para além dos limites geográficos
e culturais do Crato.
Jorge
Emicles
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