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domingo, 21 de janeiro de 2018

O PERDÃO



                   De mim para mim mesmo, certa vez, eu que sou, disse:
                   É dever da minha humanidade perdoar a tua humanidade. Mais que um ato de grandeza eis uma fórmula de sobrevivência. Por mais que meu rijo dedo te aponte defeitos, não é honrado a negação dos meus próprios.
                   O perdão é um ato de benevolência, grandeza moral, superioridade diante das adversidades. Uma importante maneira de evoluir espiritualmente. Mas igualmente, é um ato de piedade em face de si mesmo. Eu, tão denegrido e massacrado pela pesada mão dos justiceiros cobradores. Eu, que tão incompreendido já fui em minha ignóbil humanidade, que direito tenho de açoitar a tua condição humana? Tua humanidade é a mesma minha humanidade. Não somos uns melhores que os outros.
                   Reconhecer essa verdade através do perdão é também desejar sinceramente que nas vezes em que for testado em minha condição humana também seja merecedor de receber igual generosidade de sentimento. É o desejo de que meu carrasco também perceba em si próprio a minha pequena humanidade, compreendendo ser ele tão desimportante quanto aqueles a quem açoita; que o mesmo peso da balança do seu julgamento será utilizado consigo mesmo na hora adequada. Pois se julgar é necessário, tal ato somente será perfeito se provido de infinito e incondicional amor. Afinal, que sentença poderá ser administrada àquele já previamente condenado pela própria consciência?
                   Pelo perdão se arrefece a dor. O que machucava se transforma em pureza. O perdão é uma verdadeira forma de praticar a alquimia espiritual. Uma das mais profundas e difíceis delas, transmudando a pedra bruta na polida; a cruz na rosa. Se desapegando do humano sentimento da mágoa, pelo perdão se atinge o estado búdico da felicidade plena. O estado de serena paz, em harmonia com o Cósmico a partir da própria consciência. É assim que a infinidade da dor se transforme na eternidade do coração pacificado.
                   Afinal, então, quem mesmo será o maior beneficiário do perdão? Quem é perdoado? Quem perdoa? Ou a humanidade inteira?

Jorge Emicles

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