O
PERDÃO
De mim para mim mesmo, certa vez, eu que sou,
disse:
É dever da minha humanidade perdoar a tua
humanidade. Mais que um ato de grandeza eis uma fórmula de sobrevivência. Por
mais que meu rijo dedo te aponte defeitos, não é honrado a negação dos meus
próprios.
O perdão é um ato de benevolência, grandeza moral,
superioridade diante das adversidades. Uma importante maneira de evoluir espiritualmente.
Mas igualmente, é um ato de piedade em face de si mesmo. Eu, tão denegrido e
massacrado pela pesada mão dos justiceiros cobradores. Eu, que tão
incompreendido já fui em minha ignóbil humanidade, que direito tenho de açoitar
a tua condição humana? Tua humanidade é a mesma minha humanidade. Não somos uns
melhores que os outros.
Reconhecer essa verdade através do perdão é também
desejar sinceramente que nas vezes em que for testado em minha condição humana
também seja merecedor de receber igual generosidade de sentimento. É o desejo
de que meu carrasco também perceba em si próprio a minha pequena humanidade,
compreendendo ser ele tão desimportante quanto aqueles a quem açoita; que o
mesmo peso da balança do seu julgamento será utilizado consigo mesmo na hora
adequada. Pois se julgar é necessário, tal ato somente será perfeito se provido
de infinito e incondicional amor. Afinal, que sentença poderá ser administrada
àquele já previamente condenado pela própria consciência?
Pelo perdão se arrefece a dor. O que machucava se
transforma em pureza. O perdão é uma verdadeira forma de praticar a alquimia
espiritual. Uma das mais profundas e difíceis delas, transmudando a pedra bruta
na polida; a cruz na rosa. Se desapegando do humano sentimento da mágoa, pelo
perdão se atinge o estado búdico da felicidade plena. O estado de serena paz,
em harmonia com o Cósmico a partir da própria consciência. É assim que a infinidade
da dor se transforme na eternidade do coração pacificado.
Afinal, então, quem mesmo será o maior
beneficiário do perdão? Quem é perdoado? Quem perdoa? Ou a humanidade inteira?
Jorge
Emicles
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