CADA QUAL DÁ O QUE TEM
Infeliz, é como poderíamos adjetivar a reunião
ocorrida no último dia vinte e sete de janeiro de dois mil e dezesseis nas
dependências do Campus São Miguel, da URCA, em Crato, capitaneada pelo comando
de greve do Sindicato dos Docentes da URCA – SINDURCA. Na ocasião apresentaram
uma visão arrogante e estreita da realidade, basicamente transmitindo a
prepotente ideia de que todos os avanços alcançados pela instituição são
devidos exclusivamente às sucessivas e extemporâneas paralisações que promovem
a intervalos cada vez menores.
Ditatorial é o que poderíamos concluir a respeito
de sua míope visão de mundo, através da qual são destratadas quaisquer visões
antagônicas às suas próprias, pelo que negam valores essenciais ao mundo contemporâneo,
como os princípios da democracia, da república e por eles o respeito às
minorias. São democráticos nos discursos e nos momentos de conveniência, porém
déspotas quando se trata de desrespeitar e esmagar qualquer opinião contrária,
tal qual reincidentemente fazem em todas as assembleias gerais contra qualquer
insano que tente se posicionar em contrafação a suas arrogantes orientações.
Que o diga a injustificada recusa em promover uma nova assembleia geral,
solicitada por mais de cem professores da instituição, para rediscutir os rumos
da greve, inclusive a sensatez da adoção de outros meios menos radicais e
prejudiciais de luta. Que o diga a não adesão à greve de figuras de aguerrida
história, como conhecidos professores, militantes da legítima esquerda, que
vislumbrando o oportunismo golpista do movimento paredista se recusam a dele
participar. Que o diga o fortalecido movimento luta sim, greve não, que resiste à infeliz estratégia de uma greve
suicida como método de enfrentamento das deficiências da URCA.
A verdade que não querem enxergar, no entanto, é
que a tática da greve solapa ainda mais a importância geopolítica da URCA
enquanto instrumento do desenvolvimento da região do Cariri. Pelas vias da
interminável greve, que nas contas do sindicato já dura mais de dois anos, a
Universidade se torna a cada dia mais raquítica e desimportante aos olhos da
sociedade e do governo, tendo a cada giro que passa menor poder de mobilização,
pelo que sensibiliza menos e menos tanto um quanto o outro. No mínimo, não
pesaram bem os efeitos nefastos de uma greve na economia local; nem na vida dos
acadêmicos, que ao final são as maiores vítimas desse nefasto movimento,
obrigados que são a retardar em anos a sonhada alforria representada pela
adiada colação de grau; nem muito menos demonstram qualquer compromisso com o
desenvolvimento científico, porque sua greve obriga ao retardamento,
interrupção ou suspensão de atividades ligadas não apenas ao ensino, como
também à pesquisa e extensão universitárias.
Responsabilidade política e social. Talvez estejam
em falta no comando do SINDURCA.
No final de contas, fecharam a malsinada reunião
com a insólita e pusilânime afirmação de que todos os professores que não
comungam com sua cartilha autoritária, recheada de valores fascistas, seriam canalhas numa demonstração não apenas
de desrespeito aos colegas que legitimamente não pensam com eles, mas sobretudo
de intolerância à diversidade de opiniões tão necessária ao florescimento da
verdadeira e legítima academia.
Será mesmo canalha
a liberdade de compreender que existem outros meios menos gravosos de
enfrentamento das dificuldades da instituição, tanto para a comunidade
acadêmica e à sociedade em geral? É atitude típica dos canalhas reconhecer que a Universidade possui distintas e tantas
vezes antagônicas forças, todas, contudo, capazes de contribuir, como de fato o
fazem, para o crescimento da Universidade? Será dos canalhas a ideia de que é condição sine qua para a existência da vida acadêmica que hajam, persistam e
se respeitem as opiniões contraditórias, pois que é no seio dessa rica
dialética em que se constroem todos os avanços da história? Seria pelo discurso
desses canalhas que afirmariam e
principalmente se praticariam os verdadeiros valores da democracia, pelos quais
se repercute a voz, os interesses e o espaço também das minorias? É de canalhas o zelo pelos legítimos
interesses dos estudantes, já tão massacrados e prejudicados por seguidas
greves? É típico dos canalhas se
indignar contra uma greve francamente ilegítima, aprovada por menos de dez por
cento dos professores da instituição, e com cores inequivocamente políticas, de
retaliação contra a derrota na eleição para reitor e de ignóbil rancor ao
governo do Estado?
Ou canalha não seria a tentativa vil e pusilânime,
típica dos apóstatas, de manipular toda uma categoria profissional na pretensão
de torna-la massa de manobra contra seus ultrapassados objetivos
revolucionários, de elevar ao poder uma pequena elite, eles mesmos os
dirigentes partidários que comandam modernamente o SINDURCA, para instituir e
comandar uma tirana ditadura, sem dúvidas inspirada no modelo da Coréia do
Norte e da extinta União Soviética?
E para tanto, serão capazes de desossar qualquer canalha
que se ponha em seu caminho.
A franca maioria dos professores da URCA,
ofendidos que foram pelas covardes palavras do comando de greve, exigem
respeito!
Jorge
Emicles
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirExcelente texto parabéns!
ResponderExcluirE quanto aos alunos que são de outras cidades, que estão impossibilitados de comparecer às aulas, pela falta de transporte? Uma vez que, a maior parte da Universidade se encontra em greve? Serão prejudicados? Não seria uma falta de sensibilidade e união? Por que o curso de Direito se acha melhor que os demais? Por acaso, a estrutura do prédio, os livros, o núcleo de práticas jurídicas, funcionam a contento? Temos restaurante universitário? Vez ou outra acontecem apagões, salas quentes, banheiros deteriorados, etc. Agora o governador assinou uma ordem de serviço para reforma do prédio, mas quanto à valorização dos nossos docentes? Temos grandes mestres, que estudam muito, preparam aulas,será que realmente sentem-se valorizados? Sejamos sinceros! Por isso, que a greve é importante! Não é questão política, é questão de respeito aos alunos que não querem apenas um curriculum ou notas, e sim, a preparação adequada para o mercado de trabalho, cada vez mais saturado em nossa área! As greves são recorrentes, pela própria falta de união! O que não pode é prejudicar alunos que não tem ao menos condições de assistir às aulas! Para quem mora na Região Intitulada, Metropolitana do Cariri, é até plausível que mesmo com toda dificuldade compareçam! E quem mora a 150 Km, por exemplo? Vamos nos unir e lutar professores, a greve é legítima, e tem conseguido somar melhorias, sim!
ResponderExcluirCaro Robson Leonardo. Gostaria de conhecê-lo melhor. Visitando seu perfil do face verifiquei que sequer uma foto sua é publicada nele. Estranho, porque isso fica com cara de fake, de pessoas anônimas que se utilizam de perfis falsos para difundir o mal pela internet. Seja sincero, mas será honesto este seu anonimato? Tudo o que escrevo assino e me coloco disponível para receber críticas e participar de debates e compreendo ser isto muito importante para o fortalecimento não somente da luta quanto dos valores democráticos. Não pretendo ser o dono da verdade, mas me disponho e debater com honestidade, me expondo às críticas que minhas opiniões possa gerar. O nome disso é coerência. Agora, quanto a suas educadas pontuações esclareço: O próprio Reitor da URCA já assegurou que os alunos que possam justificar sua impossibilidade de comparecer às aulas não serão prejudicados. Pessoalmente retomei as aulas em atenção à franca maioria dos alunos de direito que assim solicitaram. Uma específica turma deliberou livremente que não queria continuar assistindo aulas durante a greve e sem qualquer objeção simplesmente respeitei sua vontade, tomada na soberania de uma assembleia dirigida por eles mesmos. Definitivamente, minhas atitudes não são ditatoriais. O que não é razoável é o sindicato promover uma greve que, nas suas contas, já dura mais de dois anos. Essa prática desnatura a greve como meio de luta legítimo. O que precisam compreender é que a greve não é o único meio de luta, mas na verdade o meio extremo; aquele que somente deveria ser utilizado quando todos os demais falhassem. Se é verdade que o governador atrasou mais que o razoável a publicação do edital, também é que não se recusou jamais a conversar nem jamais disse que não publicaria o edital. A greve seria legítima, assim entendo, somente em casos mais extremos. A tática de luta do SINDURCA no final das contas desmoraliza a própria categoria dos professores, afastando a sociedade local do apoio ao movimento. Perceba que, por exemplo, a reforma do campus São Miguel não é fruto da greve, mas de outras articulações realizadas pela reitoria, inclusive. Portanto, há sim outros meios de luta menos radicais. Não sou contra greves, pois sei que se tratam de importantes instrumentos de luta. Sou contra, isso sim, à banalização da greve como meio de desenvolver política partidária. A greve é instrumento de luta de uma categoria profissional, não de um específico partido político.
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