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quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

GUERRA E PAZ


                   Mais uma vez a humanidade assiste abismada a nova cena de horror terrorista, desta feita em Paris e porque não dizer no coração da Europa e da moderna civilização ocidental. É mais que simbólico o ataque de treze de novembro, porque a França é o marco, pela Revolução de 1789, de todo o estilo de vida, valores e até dos direitos amplamente reconhecidos pela grande maioria das nações. Não seríamos o que somos, não tivesse havido aquele específico momento da história contemporânea. Assim é que atacar a França é em última instância, atacar a cultura ocidental como um todo e o próprio ser humano enquanto indivíduo, o que talvez tenha sido a maior das conquistas da modernidade.
                   O temor é que esse específico episódio venha a ser o marco de tenebroso conflito generalizado, que alimente com ainda mais sangue inocente a já destacada fogueira da vingança e destruição humana. A França, neste desiderato, já declarou guerra e mesmo bombardeou o famigerado Estado Islâmico, assumido autor dos atentados terroristas. Será mesmo a guerra o caro preço para se alcançar a paz? Ou não seria a paz fruto do perdão, da tolerância e do reconhecimento efetivo do autogoverno dos povos? Afinal, somos ou não verdadeiros cristãos?
                   Sun Tzu, na obra A Arte da Guerra já ensinava que o general sábio jamais deverá deixar seu opositor sem alternativas, pois alguém sem alternativas se torna muito perigoso. Os estrategistas ocidentais, pelo cerco cerrado que fizeram as poderosas nações ao Estado Islâmico, cometeram exatamente esse erro, o que na verdade já vêm fazendo a décadas, pois simplesmente subjugam os povos do oriente, não lhes permitindo sob nenhum pretexto o pleno exercício do autogoverno. Até parece que a democracia serve apenas para o cristianizado ocidente, jamais para os seguidores de Alá. Os atentados terroristas de treze de novembro, assim como dezenas de outros encontram nessa espúria dominação sua razão mais remota. São, portanto, efeitos e não causa da violência.
                   Para combater o sangue, mais sangue. Para dar combate à violência, mais violência. Eis a tenebrosa fórmula repetida há séculos pelo ocidente e novamente posta em prática como resposta aos modernos ataques terroristas, que por sua vez serão novas causas de mais homicídios de inocentes, sejam na luminosa Paris, sejam mesmo na destruída Damasco, também berço de portentosa cultura.
                   As questões políticas e religiosas das nações árabes pertencem a elas. Não cabe ao ocidente julgá-las ou reconhecer-lhes a verdade ou a falácia de seus discursos. Em casos de calamidade, como o da moderna Síria, o dever da Europa é o de acolher os imigrantes, como muito mal vem fazendo, não o de bombardear suas terras.
                   Nós, do ocidente, vamos mal enquanto humanos. Qual o sentido de tanta cultura diante de tamanha devassidão ética?


Jorge Emicles

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