GUERRA
E PAZ
Mais
uma vez a humanidade assiste abismada a nova cena de horror terrorista, desta
feita em Paris e porque não dizer no coração da Europa e da moderna civilização
ocidental. É mais que simbólico o ataque de treze de novembro, porque a França
é o marco, pela Revolução de 1789, de todo o estilo de vida, valores e até dos
direitos amplamente reconhecidos pela grande maioria das nações. Não seríamos o
que somos, não tivesse havido aquele específico momento da história
contemporânea. Assim é que atacar a França é em última instância, atacar a
cultura ocidental como um todo e o próprio ser humano enquanto indivíduo, o que
talvez tenha sido a maior das conquistas da modernidade.
O temor é que esse específico episódio venha a ser
o marco de tenebroso conflito generalizado, que alimente com ainda mais sangue
inocente a já destacada fogueira da vingança e destruição humana. A França,
neste desiderato, já declarou guerra e mesmo bombardeou o famigerado Estado
Islâmico, assumido autor dos atentados terroristas. Será mesmo a guerra o caro
preço para se alcançar a paz? Ou não seria a paz fruto do perdão, da tolerância
e do reconhecimento efetivo do autogoverno dos povos? Afinal, somos ou não
verdadeiros cristãos?
Sun Tzu, na obra A Arte da Guerra já ensinava que o general sábio jamais deverá
deixar seu opositor sem alternativas, pois alguém sem alternativas se torna
muito perigoso. Os estrategistas ocidentais, pelo cerco cerrado que fizeram as
poderosas nações ao Estado Islâmico, cometeram exatamente esse erro, o que na
verdade já vêm fazendo a décadas, pois simplesmente subjugam os povos do
oriente, não lhes permitindo sob nenhum pretexto o pleno exercício do
autogoverno. Até parece que a democracia serve apenas para o cristianizado
ocidente, jamais para os seguidores de Alá. Os atentados terroristas de treze
de novembro, assim como dezenas de outros encontram nessa espúria dominação sua
razão mais remota. São, portanto, efeitos e não causa da violência.
Para combater o sangue, mais sangue. Para dar
combate à violência, mais violência. Eis a tenebrosa fórmula repetida há
séculos pelo ocidente e novamente posta em prática como resposta aos modernos
ataques terroristas, que por sua vez serão novas causas de mais homicídios de
inocentes, sejam na luminosa Paris, sejam mesmo na destruída Damasco, também
berço de portentosa cultura.
As questões políticas e religiosas das nações
árabes pertencem a elas. Não cabe ao ocidente julgá-las ou reconhecer-lhes a
verdade ou a falácia de seus discursos. Em casos de calamidade, como o da
moderna Síria, o dever da Europa é o de acolher os imigrantes, como muito mal
vem fazendo, não o de bombardear suas terras.
Nós, do ocidente, vamos mal enquanto humanos. Qual
o sentido de tanta cultura diante de tamanha devassidão ética?
Jorge
Emicles
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