SOMOS
TÃO JOVENS
Há algo que se espraia de mim, querendo sair das
entranhas; que incomoda na passagem, forçando seu desiderato; que impõe ser
revelado, publicizado, escancarado aos cantos do universo visível e
invisível... Há algo
dentro de mim, que se não for espraiado se transmudará em incerto mal; que
oprime, mas que tem a potência de libertar. Esse algo é o sentimento humano de
incompreensão das coisas do universo.
Mas e o que pretender de nós essas criaturas
mesquinhas, egoístas e esquisitas, se do todo nada, ou quase nada sabemos?
Somos curiosos, exploradores, criativos. No sentido mais próprio da palavra,
somos buscadores. Mas tão míopes buscadores que sequer ao certo compreendemos o
que buscamos, do que nos apraz os sentidos, qual o objetivo concreto a ser
alcançado ao final da jornada.
Somos tão inseguros a respeito de nós mesmos que
mesmo após tantos passos na jornada do conhecimento, sequer sabemos quem ou o que
somos. Há tantas vertentes para a mais primitiva e simples das dúvidas humanas...
Somos filhos das estrelas, de Deus ou fruto da fortuita colisão fundamental de nada
com coisa alguma? Somos a própria Potência Divina ou mesquinhos e desprezíveis
seres deslembrados no canto mais esquecido, dentre todos os cantos cósmicos?
Nada disso ou tudo isso somos... Mas com certeza
há algo que de tão pujante em nós é evidente e inquestionável: somos
sentimentos. Puro e complexo sentimento. A essência da nossa verdade e do nosso
ser apenas encontraremos dentro dos sentimentos. Somos o ódio, a vaidade, a inveja
e o ciúme, por certo. Mas também somos amor; o mais profundo, pujante,
regozijante e puro amor. E por esse sentimento essencial tudo podemos definir a
nosso próprio respeito. O amor que aprisiona é paixão; o amor que eleva é
desapego; o amor sem retribuição é caridade; o amor que arde em chamas é ciúme;
o amor que envaidece é cobiça; o amor que engrandece é humildade; o amor que
desapega é renúncia; o amor que entristece é saudade; o amor que ameaça é
rancor; o amor que se supera é determinação; e o amor que diminui... esse não é
amor, mas verdadeiro desamor.
Diante do amor, todo o conhecimento do universo de
nada valerá e em nada poderá engrandecer a humanidade. Somente o amor basta
para nos completar e explicar, afinal o que somos de verdade são o ror de
sentimentos que nos povoam. Mas é que somos tão jovens ante a eternidade da
Criação, que nada disso poderemos ainda compreender...
Jorge
Emicles Pinheiro Paes Barreto
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