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quarta-feira, 7 de janeiro de 2015


QUIMERA


                   Sentimento lancinante,
                   Dor que corroe sem cortar
                   Alvo e límpido mosaico de esperança e sonhos
                   Que devo esperar de ti, oh ilusionária quimera?


                   O mundo, o que seria não fossem as infinidades de sentimentos que fazemos repousar sobre ele? Ser etéreo, estéril e inútil, por certo. Não é que alimentemos de sonhos os nossos dias; é que criamos os dias, as noites e o tempo inteiro desde a capacidade que temos de produzir sonhos, objetivos, necessidades, possíveis ou impossíveis, mas realizáveis todas e sempre.
                   O mundo não é de ilusão. É a ilusão mesma. Não há a solidez das rochas que se levantam em uma montanha. Há sim um infinito vazio entre os elementos atômicos da mais sólida matéria. Não há a densidade do cósmico a se expandir dentro de si mesmo, mas sim um vácuo profundo e aparentemente inútil a separar as peças gigantescas do quebra cabeça da criação. Não há o mundo tal qual secamente se nos revela; há a interpretação que dermos às suas coisas.
                   A dor tem o tamanho da importância que damos ao sofrimento.
                   Sem nós o mundo não existiria, pois não há aquilo de que não se tem consciência. Somos nós que damos densidade a tudo na existência e é essa consciência de nossa própria consciência que nos aprisiona nas armadilhas da egolatria, da importância que insanamente emprestamos a nós mesmos, pois definitivamente sem nossa consciência do mundo o mundo não existiria. Não, pelo menos, para nós.
                   Fora de nós e de nossos preconceitos até pareceria que nada poderia existir. Por isso, talvez, precisemos ser eternos, pois a nossa eternidade pressupõe a manutenção da consciência de mundo e dela, a do mundo mesmo.
                   Se fora de nós não há o mundo, dentre de nós ele é infinito, porém ainda mais indevassável que o pequeno universo que se apresenta para além de nossas fronteiras. Parece ser bem mais fácil desenvolver a mais inimaginável das tecnologias; povoar todos os planetas habitáveis do cosmo e expandir ao infinito a civilização humana que desvendar para nós mesmos algum insólito sentimento que nos povoe, atormentando nossa existência e impingindo-nos, secretamente, a buscar a insípida, impossível por natureza, imortalidade na carne.
                   Ainda assim não valerá jamais a pena viver sem o sonho do impossível.


Jorge Emicles Pinheiro Paes Barreto

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