QUIMERA
Sentimento lancinante,
Dor que corroe sem cortar
Alvo e límpido mosaico de esperança e sonhos
Que devo esperar de ti, oh ilusionária quimera?
O mundo, o que seria não fossem as infinidades de
sentimentos que fazemos repousar sobre ele? Ser etéreo, estéril e inútil, por certo.
Não é que alimentemos de sonhos os nossos dias; é que criamos os dias, as
noites e o tempo inteiro desde a capacidade que temos de produzir sonhos,
objetivos, necessidades, possíveis ou impossíveis, mas realizáveis todas e sempre.
O mundo não é de ilusão. É a ilusão mesma. Não há
a solidez das rochas que se levantam em uma montanha. Há sim um infinito vazio entre
os elementos atômicos da mais sólida matéria. Não há a densidade do cósmico a
se expandir dentro de si mesmo, mas sim um vácuo profundo e aparentemente inútil
a separar as peças gigantescas do quebra cabeça da criação. Não há o mundo tal
qual secamente se nos revela; há a interpretação que dermos às suas coisas.
A dor tem o tamanho da importância que damos ao
sofrimento.
Sem nós o mundo não existiria, pois não há aquilo
de que não se tem consciência. Somos nós que damos densidade a tudo na
existência e é essa consciência de nossa própria consciência que nos aprisiona
nas armadilhas da egolatria, da importância que insanamente emprestamos a nós
mesmos, pois definitivamente sem nossa consciência do mundo o mundo não
existiria. Não, pelo menos, para nós.
Fora de nós e de nossos preconceitos até pareceria
que nada poderia existir. Por isso, talvez, precisemos ser eternos, pois a
nossa eternidade pressupõe a manutenção da consciência de mundo e dela, a do
mundo mesmo.
Se fora de nós não há o mundo, dentre de nós ele é
infinito, porém ainda mais indevassável que o pequeno universo que se apresenta
para além de nossas fronteiras. Parece ser bem mais fácil desenvolver a mais
inimaginável das tecnologias; povoar todos os planetas habitáveis do cosmo e
expandir ao infinito a civilização humana que desvendar para nós mesmos algum
insólito sentimento que nos povoe, atormentando nossa existência e
impingindo-nos, secretamente, a buscar a insípida, impossível por natureza,
imortalidade na carne.
Ainda assim não valerá jamais a pena viver sem o
sonho do impossível.
Jorge Emicles Pinheiro
Paes Barreto
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