A ESTÁVEL LEI DA MUDANÇA
A
crise mundial que eclodiu já alguns anos, mas que vem se aprofundando a cada
dia que passa, somado à nova conscientização sobre a necessidade de mudança de
padrões quanto às relações entre o homem e a natureza, possuem muito mais
significado do que aparentam. Estes dois fatos simbolizam antes de tudo uma
profunda mudança de paradigma quanto à forma com que o homem compreende o
mundo.
Vem de Adam Smith, pai da
economia de mercado, o sentido moderno do liberalismo, cujo pressuposto básico
é o da liberdade do mercado, onde o Estado se envolve ao mínimo na
regulamentação da economia. Modernamente, quando aportaram ao poder Ronald Reagan,
nos Estados Unidos e Margaret Tacher, na Inglaterra (isto nos idos dos anos
oitenta do século passado), tornaram-se os símbolos maiores da renovação dessas
ideias. As origens da crise econômica e do aquecimento global podem ser
correlacionados a estes dois marcos fundamentais. Em última análise,
representam o fracasso dessas ideologias, que remontam ainda, olhando um pouco
mais adiante na história, aos ideais da Revolução Francesa, dos iluministas e
dos contratualistas, ideias que fundamentam toda a ciência e os paradigmas da
sociedade humana modernos.
Por isso o estrago é muito
maior do que aparenta. Se não forem modificadas a forma de o homem compreender
o universo que povoa, com as necessárias interações entre as demais pessoas,
todo esforço será absolutamente vão. A questão então vai muito mais além do que
as discussões que se travam nas reuniões de cúpula das grandes nações, porque
não se resumem simplesmente a intervenções técnicas capazes de reduzir a
temperatura do planeta, nem a fórmulas de melhor regulamentar a economia, mas
na verdade dizem respeito a reconstrução do próprio homem e das formas que
interpreta o mundo.
Parece estranho, no mundo
do domínio da ciência, falar-se em mudanças de visão as coisas, mas acontece
que cada era da nossa história está relacionada a uma forma diferente de visão
e de interação do homem com o mundo. Na antiguidade romana, por exemplo, nem
todos os homens eram pessoas, sendo muitos deles simples coisas, como os
objetos que usamos em nosso cotidiano. Na idade média, este mesmo homem era um
mero acessória da terra que cultivava. Somente com o iluminismo é que se passou
a elevar a noção do homem como centro do universo e da religião apartada das
coisas do Estado. Agora é chegada a hora de nova mudança, porque o homem não
pode mais ser considerado a razão e o centro da existência, mas um mero
componente num sistema muito mais complexo, onde a natureza e a economia
necessariamente deverão se subordinar a estes novos paradigmas. Assim, nem a
liberdade de mercado, nem a condição superior do homem frente à existência
podem ser considerados absolutos. A própria superioridade científica como
detentora da verdade deve ser relativizada também.
A única coisa imutável em
todas as eras da existência humana é a necessidade permanente de mudança, tal
qual nos revelou ainda na antiguidade clássica o velho Heráclito. Eis o novo
mundo que nos aguarda...
Jorge Emicles Pinheiro Paes Barreto
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