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terça-feira, 8 de janeiro de 2013


REVOLUÇÃO PELA PAZ

Juntamente com o iluminismo e a brilhante inspiração que foi ao movimento que redundou na Revolução Francesa de 1789, Voltaire legou-nos um pessimismo inato, no sentido de que todas as coisas vão mau: as pessoas são infelizes e a injustiça e ingratidão é o que reina no mundo. Nem a revolução salvou a humanidade desta triste sina, se é o que não atesta-nos a empírica experiência de mundo a todos acessíveis mais de duzentos anos depois dos primeiros guilhotinados. A terceira via da social democracia européia desbocou na crise econômica mundial da atualidade; o socialismo, seja o utópico de Saint-Simon, seja o científico da Marx caiu com as ditaduras do leste europeu e da própria União Soviética, tudo simbolizado no despencar do muro que separava Berlim e a própria Alemanha em duas. A Germânia mesmo, com a megalômana ideia da ariana raça pura encerrou sua sina com o fatal tiro de Hitler em si mesmo (talvez no único ato de justiça em toda sua ditadura). Do liberalismo encetado pelos norte americanos, tiramos o exemplo de que todos os impérios são nocivos à humanidade, muito notadamente os decadentes. No Brasil, as coisas vão cada vez mais parecidas com dez anos atrás: há uma evidente crise energética, categoricamente negada pelo governo; a corrupção cresce em desmedida escala, também sob enérgica negativa oficial; o judiciário quando não é cúmplice do desmantelo comprova não possuir meios de combate ao mau feito. Em essência, nada está tão diferente de antes da Revolução Francesa, enfim.
                   Mais do que um teórico revolucionário, Voltaire foi um obstinado crítico da sociedade em que viveu. Talvez por isto seja ainda tão atual. Não pretendeu nos legar uma verdade superior, senão evidenciar-nos quanto nosso mundo é injusto. Mas o é por nossas próprias forças. Não nos trouxe a fórmula da salvação; o caminho por onde a sociedade constituir-se-á perfeita e justa; por intermédio do qual as pessoas alcançarão sua verdadeira felicidade. Aliás, não se poderá verdadeiramente acusá-lo de ter sido em qualquer nível teórico da revolução, porque sua análise foi pragmática, sem qualquer elemento de teoria. Não há ciência em seus escritos, senão escárnio e revolta contra as pavorosas coisas criadas por seus iguais, os nobres aristocratas europeus (talvez sua principal contradição tenha sido a de usufruir galantemente de todas as benesses que o status aristocrático, o qual tanto criticava, era capaz de conceder). É preciso no século vinte e um revisitá-lo. Mas não para concluir pelo desterro; que as coisas da humanidade não têm solução; que é melhor acostumarmo-nos com as injustiças, pois nada poderá mudar esta realidade deprimente, nem mesmo uma revolução.
                   A revolução pelas armas, onde a força do homem destrói seus iguais e sua consciência aniquila as opiniões adversas, como meio necessário de por, enfim, as coisas em uma ordem, a qual verdadeiramente jamais será alcançada, esta já se provou ineficaz, seja pela experiência dos franceses, seja por dezenas outras, como poderiam ser lembradas as revoluções da Rússia, de Cuba e mesmo as insípidas experiências brasileiras (aqui sempre fracassadas, como o fez o velho general Prestes por mais de uma ocasião). Mas a revolução pelo elevo da consciência, pelo conhecimento verdadeiro; a revolução da sociedade pautada na evolução da humanidade, esta jamais se experimentou, senão num plano extremamente reservado e teórico. O novo ciclo da história humana anunciado por este conturbado início de século, penso, seja o momento necessário e oportuno para tal experiência coletiva. Talvez seja chegado o tempo da revolução pela paz!
Jorge Emicles Pinheiro Paes Barreto.

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