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terça-feira, 1 de janeiro de 2019


A PAZ QUE EM MIM HABITA



                   O estampido dos fogos do fim de ano, contrastam profundamente com o silêncio interior do ser que em mim desvela altos e inebriantes mistérios. De que essência é feito o espírito que somos, Éter do divino, concretude no imaterial, certeza no aparente vácuo do pós-túmulo. Quais razões nos impeliram a abandonar a essência e que convicções nos induzem a trilhar, mesmo que inconscientemente, o caminho de volta; de volta a quê; de volta a quem.
                   Porque de tanto e indizível sofrimento. As razões de serem a resignação e humildade poderosas ferramentas no aprendizado evolutivo.
                   As respostas, as podemos encontrar todas no silêncio, na meditação e na busca sincera. Não, contudo, no burburinho frenético dos átomos aquecidos de centenas de elementos, que coloridos pelo calor da pólvora gritam em cores as vibrantes imagens que se formam em milhares de lugares em toda a orbe terrestre. A beleza do espetáculo não é capaz de esconder a inutilidade do costume. Não para os espíritos verdadeiramente sensíveis que se preparam para o porvir magnânimo e ao mesmo tempo catastrófico que se avizinha.
                   É quase hipócrita a cena da grande praia apinhada de ricos e remediados, tupiniquins e estrangeiros, amavelmente olhando para o céu brilhante do espetáculo pirotécnico, ao mesmo tempo em que outros tantos sofrem penitências nas cadeias, favelas e hospitais. Cristo, o verdadeiro redentor, a quem socorrerá? O da agonia ou o da ignomínia?
                   De nada valem tantos peitos volumosos, bundas bem definidas, peitorais estéticos, se a cada estampido dos fogos uma pontada de culpa e uma dose de remorso apimentam o coração. Por maior que sejam os uivos dos fogos e os gritos da virada, não serão suficientes para calar o tom acusador da consciência dando conta do mal que se fez, da traição que se perpetrou ou do sangue que foi derramado. O branco dos trajes ricos e o brilho das joias suntuosas não passam tantas vezes de algum superficial verniz, que esconde dos vizinhos míopes o rubro do sangue e o negrume azedo das injustiças. O sorriso das selfies não esconde o opaco dos olhos a desmascarar o verdadeiro estado de espírito de tantas e infelizes caricaturas.
                   A aura não permite esconder a essência sobre quem somos.
                   Os verdadeiros espíritos de luz têm o dever de velar e calar. Velar em oração pela conscientização de tantos quanto se permitam dar passos na senda da evolução. Calar diante da individual e irrecorrível escolha de cada qual.
                   Já é pesado demais cuidarmos individualmente da própria salvação. Não há como decidir nem ser responsável pelas escolhas e dores alheias. Praticar a caridade não é sofrer no lugar, mas servir o suporte que se puder dar.
                   E assim, em paz com os deveres, buscando atender às exigências da jornada, mas ao mesmo tempo com consciência dos próprios limites impostos pela condição humana, ao passo em que se consegue aproximar o máximo da meta proposta, vem chegando uma calmaria no coração, uma paz tão mais interior quanto profunda. Tem a ver com o dever cumprido, mas é ainda bem mais que isso. É como uma amostra da paz que habitaremos todos quando refletirmos a perfeição do Criador.
                   Mas é uma paz terrena, material. Por isso passageira.
                   E é ela que me cala, me entrincheira no silêncio, me alimenta na solidão e me faz vislumbrar que mesmo em face de tantas pelejas a serem enfrentadas; apesar de tantas dores e sofrimentos a serem vencidos, vale a pena seguir a jornada. Mesmo que seja para sentir essa indefinível paz interior por um único instante que seja.

Jorge Emicles

Um comentário:

  1. Prof. Jorge Emicles,
    Esse texto deixa a nossa alma mais tranquila e serena. Pois nos faz refletir que a superficialidade de um sorriso aparente não equivale a uma alma verdadeiramente feliz.
    Paz e saúde.
    Feliz 2019.
    Extensivos aos familiares.
    Jackson Guedes

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