A
PAZ QUE EM MIM HABITA
O
estampido dos fogos do fim de ano, contrastam profundamente com o silêncio
interior do ser que em mim desvela altos e inebriantes mistérios. De que
essência é feito o espírito que somos, Éter do divino, concretude no imaterial,
certeza no aparente vácuo do pós-túmulo. Quais razões nos impeliram a abandonar
a essência e que convicções nos induzem a trilhar, mesmo que inconscientemente,
o caminho de volta; de volta a quê; de volta a quem.
Porque de tanto e indizível sofrimento. As razões
de serem a resignação e humildade poderosas ferramentas no aprendizado
evolutivo.
As respostas, as podemos encontrar todas no
silêncio, na meditação e na busca sincera. Não, contudo, no burburinho
frenético dos átomos aquecidos de centenas de elementos, que coloridos pelo calor
da pólvora gritam em cores as vibrantes imagens que se formam em milhares de
lugares em toda a orbe terrestre. A beleza do espetáculo não é capaz de
esconder a inutilidade do costume. Não para os espíritos verdadeiramente
sensíveis que se preparam para o porvir magnânimo e ao mesmo tempo catastrófico
que se avizinha.
É quase hipócrita a cena da grande praia apinhada
de ricos e remediados, tupiniquins e estrangeiros, amavelmente olhando para o
céu brilhante do espetáculo pirotécnico, ao mesmo tempo em que outros tantos
sofrem penitências nas cadeias, favelas e hospitais. Cristo, o verdadeiro
redentor, a quem socorrerá? O da agonia ou o da ignomínia?
De nada valem tantos peitos volumosos, bundas bem
definidas, peitorais estéticos, se a cada estampido dos fogos uma pontada de
culpa e uma dose de remorso apimentam o coração. Por maior que sejam os uivos
dos fogos e os gritos da virada, não serão suficientes para calar o tom
acusador da consciência dando conta do mal que se fez, da traição que se
perpetrou ou do sangue que foi derramado. O branco dos trajes ricos e o brilho
das joias suntuosas não passam tantas vezes de algum superficial verniz, que
esconde dos vizinhos míopes o rubro do sangue e o negrume azedo das injustiças.
O sorriso das selfies não esconde o
opaco dos olhos a desmascarar o verdadeiro estado de espírito de tantas e
infelizes caricaturas.
A aura não permite esconder a essência sobre quem
somos.
Os verdadeiros espíritos de luz têm o dever de
velar e calar. Velar em oração pela conscientização de tantos quanto se
permitam dar passos na senda da evolução. Calar diante da individual e
irrecorrível escolha de cada qual.
Já é pesado demais cuidarmos individualmente da
própria salvação. Não há como decidir nem ser responsável pelas escolhas e
dores alheias. Praticar a caridade não é sofrer no lugar, mas servir o suporte
que se puder dar.
E assim, em paz com os deveres, buscando atender
às exigências da jornada, mas ao mesmo tempo com consciência dos próprios limites
impostos pela condição humana, ao passo em que se consegue aproximar o máximo
da meta proposta, vem chegando uma calmaria no coração, uma paz tão mais
interior quanto profunda. Tem a ver com o dever cumprido, mas é ainda bem mais
que isso. É como uma amostra da paz que habitaremos todos quando refletirmos a
perfeição do Criador.
Mas é uma paz terrena, material. Por isso
passageira.
E é ela que me cala, me entrincheira no silêncio,
me alimenta na solidão e me faz vislumbrar que mesmo em face de tantas pelejas
a serem enfrentadas; apesar de tantas dores e sofrimentos a serem vencidos,
vale a pena seguir a jornada. Mesmo que seja para sentir essa indefinível paz
interior por um único instante que seja.
Jorge
Emicles
Prof. Jorge Emicles,
ResponderExcluirEsse texto deixa a nossa alma mais tranquila e serena. Pois nos faz refletir que a superficialidade de um sorriso aparente não equivale a uma alma verdadeiramente feliz.
Paz e saúde.
Feliz 2019.
Extensivos aos familiares.
Jackson Guedes