Enquanto espécie, somos (nós, a humanidade) um
disforme conglomerado de seres, tão parecidos e ao mesmo tempo tão díspares uns
dos outros. Sobretudo, o que somos mesmo é unidades solitárias de consciência
em busca de dar algum sentido para a vida nossa e do grupo coletivo.
Mutuamente, nós e a coletividade em que nos instalamos, estabelecemos perigosas
relações de comutação, onde ao tempo em que somos explorados igualmente exploramos
a outra parte da relação.
É talvez o medo da solidão que nos impulsiona
instintivamente à vida grupal, que ao mesmo tempo nos incomoda pelas amarras sociais
que nos são impostas enquanto condição do convívio. Mas também é o desejo
insano à imortalidade que nos impele a tal convívio, pois a única maneira de
vencermos a mortalidade da existência terrena é pela lembrança dos que
deixamos. Nesse ângulo, tudo o que a humanidade produziu ou vier a produzir é
fruto dessa ignóbil luta, fruto do pueril desejo de sobrevivermos aos processos
orgânicos do nosso corpo. A sociedade como um conjunto descende desse desejo;
as grandes obras da arte concretizam, às vezes por séculos a imortalidade de
ditos personagens; assim como o culto aos mortos, a estrutura da família e, em
uma palavra, tudo do que se ocupou o homem por tantos e incontáveis milênios.
Porém, a verdade central da existência segue sendo
a mesma, por mais cegos que todos nós estejamos a ela: enquanto unidades de
consciência somos solitários. A maior e mais insuperável de todas as marcas da
existência humana segue sendo a solitude dos homens. Por mais congestionadas de
pessoas que estejam as grandes cidades; por mais numerosas que sejam as
famílias; por mais relacionamentos que se estabeleçam nas redes sociais é essa
danada da solidão quem nos devora pouco a pouco, arrefecendo a esperança, cada
vez mais tênue, de darmos cabo àquele surdo sentimento que nos povoa a todos e
que combatemos incansavelmente por todos os vãos instantes da nossa existência e do qual tão poucos sabem propriamente de que se trata.
Pior que isso, é não enxergarmos a bonança e a
necessidade mesmo da solidão. É por meio dela que chegamos e deixamos a existência
material. É por seu intermédio que recebemos as maiores bênçãos e as mais
importantes inspirações em nossa existência. Nossa intuição nos fala à
consciência pelo silêncio e através da solidão. Sobretudo, é por seu meio que
seremos capazes de enxergar, compreender e nos integrar ao próprio Deus.
Que benção, então é a solidão. Que ela nos seja
útil, pois.
Jorge Emicles Pinheiro
Paes Barreto
Nenhum comentário:
Postar um comentário