QUEM
PODERÁ NOS DEFENDER?
Etimologicamente, candidato vem do latim candidatus, que significa cândido, alvo.
Para simbolizar sua pureza, na antiguidade, aqueles que pretendiam concorrer a
algum cargo público se vestiam de branco, enquanto símbolo da pureza que
deveriam ostentar enquanto condição para a ascensão ao honorífico cargo que
pretendiam. Atualmente, a moderna campanha presidencial literalmente jogou na
podre lama do esquecimento a nobre origem dessa palavra. Basta observarmos em
torno de que assuntos giram os debates entre os incândidos candidatos presidenciais. No final das contas, parece
que deveremos escolher entre o menos corrupto, o menos omisso ou o menos
cúmplice, porque as denúncias de corrupção grassam por sobre todos igualando-os
nefastamente pelos valores que não deveriam possuir.
Para além das cores ideológicas das preferências partidárias,
nos parece revelado pela propaganda eleitoral a inglória verdade de que a
corrupção é uma realidade comum a todos os partidos, de todas as tendências. Não
se trata de um mal da direita nem da esquerda, mas da própria política. A
indesejável lição talvez seja a de que onde houver o Estado e a digladiadora
luta pela política, ali os homens se corromperão. Talvez não seja o caso de
concordar com Aristóteles para quem a democracia tende a se transformar em uma demagogia,
pois de todos os modelos de governo a liberdade segue sendo melhor assegurada
pela participação popular direta. Ainda assim, é certo que a nossa democracia
se encontra em séria crise de representatividade. Os candidatos, atolados todos
em denúncias de corrupção, que quando não sejam diretamente indicados como
partícipes ou cúmplices, pecam indelevelmente ao menos pela omissão de não
controlar, mandar apurar e advogar a pronta punição dos corruptos, certamente
não representam o cidadão mediano, honesto por instinto e por criação, que tem
nos valores da verdade, honestidade, boa fé e respeito ao que seja correto os
alicerces maiores de sua existência. Nem eu, nem esse cidadão nacional mediano
(o bom pai de família dos tempos da antiga Roma) nos sentimos representados
pelas candidaturas postas, todas por uma maneira ou outra associados à má administração
da coisa pública, com obras paradas, mau executadas ou caras em excesso; com os
desmandos da máquina administrativa, onde pessoas sem cargos mandam mais que os
que tenham sido regularmente nomeados; onde o futuro ocupante do cargo mais
importante da nação é chamado de mentiroso em cadeia nacional de televisão e
permanece silente, como se não fosse com ele o ocorrido; onde os candidatos não
falam o que pensam verdadeiramente, mas aquilo que seus marqueteiros lhes
mandam dizer, transmudando-se, todos, em mercadorias a serem consumidas pelo
incauto eleitor, não pelo conteúdo que possuam, mas pela bela embalagem com a qual
se apresentam.
Precisamos de pessoas sérias de verdade, não das
que simplesmente se travistam dessa capa pelos recursos da mídia. Precisamos de
governantes éticos e honestos de fato, não dos que finjam não saber por
intermédio de que meios ilícitos conseguem aportar recursos financeiros à sua
campanha. Necessitamos de candidatos limpos e puros efetivamente, não dos que
afirmam uma coisa e praticam outra totalmente diferente. Em uma palavra, é de
coerência e respeito do que mais a nossa fragilizada democracia precisa. Mas e
de quem poderemos esperar esses sublimes e imprescindíveis valores?
Jorge Emicles Pinheiro
Paes Barreto
Nenhum comentário:
Postar um comentário