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segunda-feira, 20 de outubro de 2014


QUEM PODERÁ NOS DEFENDER?

                   Etimologicamente, candidato vem do latim candidatus, que significa cândido, alvo. Para simbolizar sua pureza, na antiguidade, aqueles que pretendiam concorrer a algum cargo público se vestiam de branco, enquanto símbolo da pureza que deveriam ostentar enquanto condição para a ascensão ao honorífico cargo que pretendiam. Atualmente, a moderna campanha presidencial literalmente jogou na podre lama do esquecimento a nobre origem dessa palavra. Basta observarmos em torno de que assuntos giram os debates entre os incândidos candidatos presidenciais. No final das contas, parece que deveremos escolher entre o menos corrupto, o menos omisso ou o menos cúmplice, porque as denúncias de corrupção grassam por sobre todos igualando-os nefastamente pelos valores que não deveriam possuir.
                   Para além das cores ideológicas das preferências partidárias, nos parece revelado pela propaganda eleitoral a inglória verdade de que a corrupção é uma realidade comum a todos os partidos, de todas as tendências. Não se trata de um mal da direita nem da esquerda, mas da própria política. A indesejável lição talvez seja a de que onde houver o Estado e a digladiadora luta pela política, ali os homens se corromperão. Talvez não seja o caso de concordar com Aristóteles para quem a democracia tende a se transformar em uma demagogia, pois de todos os modelos de governo a liberdade segue sendo melhor assegurada pela participação popular direta. Ainda assim, é certo que a nossa democracia se encontra em séria crise de representatividade. Os candidatos, atolados todos em denúncias de corrupção, que quando não sejam diretamente indicados como partícipes ou cúmplices, pecam indelevelmente ao menos pela omissão de não controlar, mandar apurar e advogar a pronta punição dos corruptos, certamente não representam o cidadão mediano, honesto por instinto e por criação, que tem nos valores da verdade, honestidade, boa fé e respeito ao que seja correto os alicerces maiores de sua existência. Nem eu, nem esse cidadão nacional mediano (o bom pai de família dos tempos da antiga Roma) nos sentimos representados pelas candidaturas postas, todas por uma maneira ou outra associados à má administração da coisa pública, com obras paradas, mau executadas ou caras em excesso; com os desmandos da máquina administrativa, onde pessoas sem cargos mandam mais que os que tenham sido regularmente nomeados; onde o futuro ocupante do cargo mais importante da nação é chamado de mentiroso em cadeia nacional de televisão e permanece silente, como se não fosse com ele o ocorrido; onde os candidatos não falam o que pensam verdadeiramente, mas aquilo que seus marqueteiros lhes mandam dizer, transmudando-se, todos, em mercadorias a serem consumidas pelo incauto eleitor, não pelo conteúdo que possuam, mas pela bela embalagem com a qual se apresentam.
                   Precisamos de pessoas sérias de verdade, não das que simplesmente se travistam dessa capa pelos recursos da mídia. Precisamos de governantes éticos e honestos de fato, não dos que finjam não saber por intermédio de que meios ilícitos conseguem aportar recursos financeiros à sua campanha. Necessitamos de candidatos limpos e puros efetivamente, não dos que afirmam uma coisa e praticam outra totalmente diferente. Em uma palavra, é de coerência e respeito do que mais a nossa fragilizada democracia precisa. Mas e de quem poderemos esperar esses sublimes e imprescindíveis valores?

Jorge Emicles Pinheiro Paes Barreto

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