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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013


VERDADE
                   Há uma verdade intricada dentro de mim, que em estando dentro do meu ser revela na verdade ele mesmo. Como não sou uma ilha no meio de uma vastidão oceânica, (muito embora em tantas ocasiões tenha desejado ser assim e em outras lutado bravamente para transpor a infinitude de água que me separa dos meus pares) esta minha verdade tem algo que ver com o que é de fato o mundo e a existência.
                   Sou uma alma, é dizer, uma centelha de consciência na vastidão do universo. Sou eu, enquanto consciência, quem dá razão ao mundo. Sem mim e sem as outras milhões de consciências que povoam este mundo e ele simplesmente não existiria, não seria nada. Que seria de Deus sem suas criaturas? O Incriado, ao final, necessita de suas criaturas para existir, pois é o nosso existir que, em lhe dando consciência de si mesmo, dão sentido, cores e razões para toda a sua Obra, a começar pelo próprio Criador.
                   Mas esta verdade que me povoa não é nem jamais será igual à verdade que povoa o mundo fora de mim, muito embora fora de mim o mundo não exista. Eu sou uma criação e uma criatura em mim mesmo. Tudo me povoa e tudo é por mim povoado. Eu sou...
                   E esta verdade, o que revela de superior ciência, senão a relativização de meu próprio ser? Sou criador de mundo infinito, que mesmo dentro de mim tem inefáveis limites, a começar pela pequenez sórdida de meu próprio ser. Minha criação tem meus limites, meus defeitos, minhas angústias... Oh, não, há dores demais dentro de mim para povoar o mundo! Este mundo há de ser terrível, posto a terrível angústia que me habita: a angústia de ser humano, finito na matéria, nos poderes, mas infinito no pensamento e nas quimeras.
                   Esta minha verdade é, com a mesma convicção que eu próprio sou. Eu sou... algo terrível e genial ao mesmo tempo, capaz de infinitos sacrifícios, tormentosas renúncias e desgastantes apegos. Às vezes é desesperador ser humano, finito e infinito ao mesmo tempo; tendo de se reconhecer humilde e tão pujante, ao mesmo tempo que o próprio Criador. Sendo, afinal, criador do próprio mundo, infinito-finito; pobre-rico; sábio-tolo como cada uma das células que habitam as minhas vastas entranhas, que cagam, bebem e se regozijam dos prazeres mundanos, tanto quanto todos os meus infinitos e iguais irmãos.

                   É a dor de viver, que quando em vez se transmuda na alegria de existir...
Jorge Emicles Pinheiro Paes Barreto

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