UTOPIA
BRASILEIRA
Desde a segunda metade do já remoto ano de 2014 (tão
avassaladora foi a torrente de fatos estarrecedores, que poucos anos parecem um
tempo bem longínquo), a nação brasileira se assombra em proporção cada vez maior
com o lamaçal de corrupção, abusos de poder e desmandos de toda ordem
acontecidos no país no decorrer dos últimos governos. A denúncia que envolveu o
chamado mensalão até parece brincadeira de criança perto da ousadia a que os
donos do dinheiro e do poder foram capazes de chegar. Os defensores do petismo
não têm como mais negar a podridão dos seus governos, embora honrosamente
busquem salvaguardar as importantes conquistas sociais fruto de seu legado. Em
defesa do lulismo, argumentam que a corrupção foi o preço a ser pago em troca
dos avanços sociais muito bem simbolizados pela propaganda em torno do bolsa
família, afinal, aduzem, era preciso conter a sanha das elites políticas por
dinheiro enquanto seu grande líder trabalhava para os pobres.
Também lembram, com inteira razão, que a corrupção
não é invenção das últimas décadas; que todos os governos da nação já a
praticaram em níveis mais claros ou obscuros durante o correr da nossa
história. Reconhece-se este fétido cheiro nas privatizações dos governos
tucanos, no milagre da economia brasileira da ditadura militar, na crise que
conduziu ao suicídio de Getúlio Vargas, nos governos do café com leite e,
claro, também no vangloriado governo imperial dos Pedros.
Ninguém escapa a esta malsinada sanha, nem mesmo
as autoridades responsáveis pela investigação, como se afere a propósito do
temeroso acordo de delação dos empresários da JBS, que contou com a qualificada
assessoria direta do braço direito do Procurador Geral da República e que
revelou ao país um espúrio objetivo do parquet,
condenar por condenar, buscar provas sem nenhuma responsabilidade ética ou
mínimo respeito pela ordem constitucional. Como não existe o fiscal do fiscal,
segue em suspenso a relevante dúvida a propósito da imparcialidade, seriedade e
capacidade ética e moral dos ocupantes dos órgãos de investigação e julgamento
das patologias corruptivas país afora. Afinal, agir em desrespeito às garantias
constitucionais das liberdades individuais é prática tão nefasta e corruptora
do estado democrático de direito quando a incontrolável fome por dinheiros
públicos dos denunciados. Sempre será necessário lembrar, relembrar e tornar a
dizer incansavelmente que é imperioso que existam limites ao poder do Estado de
investigar e punir, porque o preço por este esquecimento será o arbítrio, o
abuso e o desrespeito aos mais comezinhos direitos fundamentais, afirmados e
garantidos por uma severa luta histórica, em parte positivada na declaração
nacional de direitos fundamentais.
É em meio a esta desconcertante perplexidade que
nos avizinhamos do ápice do processo eleitoral de 2018, que apontará quem será
o próximo Presidente da República, Governadores dos Estados e membros do Congresso
Nacional e Assembleias Legislativas. Enquanto o Congresso impõe à sociedade a
humilhante obrigação de financiar a campanha de todos os candidatos, as
pesquisas apontam como franco favorito o ex-Presidente Lula, o que na prática,
nada esclarece sobre o denso nevoeiro que se abateu sobre a política nacional.
A dúvida agora não é a respeito de sua valente liderança junto à opinião
popular, capaz de sobreviver quase inabalável, mesmo ante a tão contundente
acharque da mídia e do judiciário. A incerteza diz respeito a se, mesmo líder,
estará ele nos palanques ou na prisão por ocasião da votação que ocorrerá daqui
a um ano.
A verdade mesmo; a grande lição que deveríamos
tirar, mas enquanto povo não nos apercebemos, é que não serão as eleições nem o
pseudo heroísmo de certas autoridades que nos libertará do caos. É preciso
muito mais que estas homéricas ações. Precisamos mesmo é nos aperfeiçoar
moralmente como pessoas, daí enquanto povo, somente assim fazendo desta terrae brasilis uma verdadeira e
poderosa nação do porvir. Será esta a grande utopia de (e por) um povo
brasileiro.
Jorge
Emicles
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