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sábado, 27 de dezembro de 2014


ADEUS, PAI!
                   Aquela, sem dúvidas, foi a viagem mais adiada; a menos pretendida. Em uma palavra, o mais medonho de todos os traslados. A verdade dos fatos se tornava cada vez mais indeclinável, mesmo assim o quanto pude adiei aquele derradeiro encontro. Nós bem que não precisávamos dele! Para que a despedida final; o que poderia nos legar momento tão contumaz, quase sem sentido na nossa existência. O que vale é o que foi, o que se fez, aquilo que se desejou e cumpriu. Não vale a inércia da morte e a saudade do que não foi dito nem feito, por mais que tenha sido desejado.
                   Foi assim, nessa fuga do inevitável que recebi a triste notícia de tua partida. Serena, rodeada dos maiores amores, dos que souberam como ninguém honrar a tua vida e eternizarão a tua memória. Que partida feliz, cheia de graça e plena de esperança! Ao final, desmentiste a lenda de que é sempre triste, feia e ignóbil a morte. A tua não merecia ser e definitivamente não foi assim. Partiste em paz e em paz deixaste os teus. Não há de ter partida mais reconfortante que esta, a tua. Prova do grande merecimento que construíste em vida.
                   Aprendi a te amar mais, te vendo tão amado; a querer te homenagear mais, te vendo tão homenageado; de memória tão concorrida. Algo que preciso eu mesmo construir em minha vida!
                   Quais deveriam ser minhas últimas palavras a ti? De que adeuses; de que senões; de que poréns deveria me ocupar? Sinceramente, de nenhum. A singeleza de tua partida igualmente prova que o silêncio na maioria das vezes prova e demonstra mais coisas que as mais contundentes das palavras. Não duvido do poder das palavras, mas a tua lição se encontra na pujança do silêncio. Pois as últimas palavras que tinha a ti eram exatamente aquela mirada silenciosa; aqueles pensamentos intensos; e o filme de lembranças que passou em minha conturbada mente. Não haveria resposta possível àqueles intensos sentimentos.
                   Então o silencio foi nosso melhor diálogo, e nesse silêncio guardarei para sempre o encantamento daquele instante. No coração, de onde nem pela morte me desapegarei dele!
                   E se mágoas houveram; carências existiram; dores se plantaram; e se faltaram algumas revelações; se não sonhamos os mesmos sonhos em algum instante; nada disso tem importância, pois restou tudo apagado no turbilhão de cinzas que um dia foi teu corpo. Ao pó sempre retornaremos. Tudo isso já passou. Eternas são as boas lembranças; imortal é o espírito e o amor que plantamos.
                   Fica em paz, PAI, na eternidade da minha memória e no infinito do Cósmico!

Jorge Emicles Pinheiro Paes Barreto

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014




REMINISCÊNCIAS

                            Há uma noite a menos na cúpula de minha insólita existência. As horas são lentas, às vezes tão letárgicas e incalculáveis que nos enfadam e iludem pretendendo-se infinitas. Mas cada hora a mais representa o mesmo tempo a menos da existência e cada missão adiada significa a renúncia a algum afazer, tantas vezes tolo e banal, outras porém imprescindível à pretendida eternidade.
                            A verdade mesma; a cruenta, insensível e pernóstica verdade, é que apenas descobriremos o quanto é insignificante a pueril história de nossa existência pessoal quando ela já tiver se esgotado totalmente. Há um completo abandono de si mesmo e em si mesmo, pois o que queremos da vida não é nada. Ela nada significaria não fosse finita, inútil, frívolo e impossível desejo de imortalidade.
                            Nossas mães estrelas, entretanto, são tão inalcançáveis pela vastidão do Universo, que nem nossa galopante imaginação jamais será capaz de presumir o confim mais distante e desassossegado do cosmo. Nada existirá para além da nossa consciência? E em reverso, tudo o que pensamos há? Há então, aquele mundo paralelo, de luz pujante, sabedoria incomparável e beleza indescritível que alicerço em minha podre mente? Não há mais o pernóstico sentimento de sofrimento que decreto seja extirpado de minhas entranhas tão despoticamente quanto o mais vulgar dos tiranos decreta a morte de seus conselheiros mais temíveis?
                            Decreto vão; ignóbil este, pois não se invalida o que se emprenha na própria essência. Que horror, pois segue existindo dentro de mim o que dentro de mim suicidei. Não se nega o sentimento mais legítimo, tanto quanto não se omite a maré da irresistível força gravitacional da charmosa lua.
                            Ah, aquela lua! Redonda, bela, prateada que boia na vastidão da noite pululada por um ror incontável de estrelas. As estrelas, todas elas, são presumidamente maiores que a lua. Da nossa perspectiva, no entanto, é a lua que não passa indiferente diante da nossa acabrunhada vista. É a lua, a pequena filha das estrelas (tal como nós), não a mãe de toda a matéria cósmica, quem é imprescindível aos enamorados; irresistível às águas e ao próprio ciclo de vida do nosso pequeno planeta.
                            Vês, assim, como é míope a nossa visão do mundo e da vida?


Jorge Emicles Pinheiro Paes Barreto