ADEUS,
PAI!
Aquela, sem dúvidas, foi a viagem mais adiada; a
menos pretendida. Em uma palavra, o mais medonho de todos os traslados. A
verdade dos fatos se tornava cada vez mais indeclinável, mesmo assim o quanto
pude adiei aquele derradeiro encontro. Nós bem que não precisávamos dele! Para
que a despedida final; o que poderia nos legar momento tão contumaz, quase sem
sentido na nossa existência. O que vale é o que foi, o que se fez, aquilo que
se desejou e cumpriu. Não vale a inércia da morte e a saudade do que não foi
dito nem feito, por mais que tenha sido desejado.
Foi assim, nessa fuga do inevitável que recebi a
triste notícia de tua partida. Serena, rodeada dos maiores amores, dos que
souberam como ninguém honrar a tua vida e eternizarão a tua memória. Que
partida feliz, cheia de graça e plena de esperança! Ao final, desmentiste a
lenda de que é sempre triste, feia e ignóbil a morte. A tua não merecia ser e
definitivamente não foi assim. Partiste em paz e em paz deixaste os teus. Não
há de ter partida mais reconfortante que esta, a tua. Prova do grande
merecimento que construíste em vida.
Aprendi a te amar mais, te vendo tão amado; a
querer te homenagear mais, te vendo tão homenageado; de memória tão concorrida.
Algo que preciso eu mesmo construir em minha vida!
Quais deveriam ser minhas últimas palavras a ti?
De que adeuses; de que senões; de que poréns deveria me ocupar? Sinceramente,
de nenhum. A singeleza de tua partida igualmente prova que o silêncio na
maioria das vezes prova e demonstra mais coisas que as mais contundentes das
palavras. Não duvido do poder das palavras, mas a tua lição se encontra na
pujança do silêncio. Pois as últimas palavras que tinha a ti eram exatamente
aquela mirada silenciosa; aqueles pensamentos intensos; e o filme de lembranças
que passou em minha conturbada mente. Não haveria resposta possível àqueles
intensos sentimentos.
Então o silencio foi nosso melhor diálogo, e nesse
silêncio guardarei para sempre o encantamento daquele instante. No coração, de
onde nem pela morte me desapegarei dele!
E se mágoas houveram; carências existiram; dores
se plantaram; e se faltaram algumas revelações; se não sonhamos os mesmos
sonhos em algum instante; nada disso tem importância, pois restou tudo apagado
no turbilhão de cinzas que um dia foi teu corpo. Ao pó sempre retornaremos. Tudo
isso já passou. Eternas são as boas lembranças; imortal é o espírito e o amor
que plantamos.
Fica em paz, PAI, na eternidade da minha memória e
no infinito do Cósmico!
Jorge Emicles Pinheiro
Paes Barreto