A
GAIOLA DAS HIENAS
A
notícia do ano já explodiu nos quatro cantos da cidade: há corrupção na Câmara
de Vereadores de Crato; cobra-se, por cabeça uma quantia já divulgada pelo voto
do edil contra o ex-governante; o Presidente da Casa nada sabe a respeito;
muito menos o atual mandante do executivo local. Há realmente algo de novo
entre o céu e a terra? Pois a ladainha é a mesma que aconteceu em Brasília no
ano de 2005, quando o Presidente da República, tez afrontada, cara de bom moço
veio em cadeia nacional dizer a exata e mesma coisa: eu? Nada sei sobre a roubalheira
que fazem em meu santo nome, sob os honestos fios de minha barba grisalha. E os
cratenses, como os bons brasileiros haverão de reeleger os mesmos desalmados
para novo mandato, como fizeram com o próprio Presidente de então e até com mensaleiros, afinal cabe a pergunta:
onde estão José Genoíno e João Paulo Cunha, senão no pleno exercício de
mandatos eletivos?
A história infelizmente nos convence de que o mensalão do Crato tem um fim certo, que
é a manutenção no poder dos seus mentores. Com Samuel Araripe fora do páreo,
quem terá envergadura política e financeira para fazer frente ao atual grupo de
poder no Crato nas próximas eleições? Se não foram os mentores do ardil, é
porque são ingênuos, honestos e éticos acima de todos os mesquinhos valores que
alimentam a política aqui e alhures. Acreditemos, pois, na boa fé de nossos
políticos, afinal de contas foram eleitos pela flâmula dos seus discursos, sem
a menor que seja utilização do criminoso abuso de poder econômico, político e
de mídia. Não gastaram mais dinheiro que seus adversários; não compraram votos;
não se utilizaram de propaganda mais elaborada que seus pobres opositores...
como então não acreditar na pura verdade que apresentam por detrás de seus
olhos brilhantes de cândida honestidade, claramente melhorados pela maquiagem
midiática de que se utilizam?
Como não acreditar que um vereador com quase
trinta anos de repetidos mandatos, que até trinta e um de dezembro era o melhor
amigo do ex-gestor, que por razões inexplicáveis (claro que não foi por
empregos na Prefeitura!) tornou-se agora o melhor amigo do atual gestor? Como
não acreditar que na reunião que aconteceu às vésperas da votação das contas do
ex-Prefeito, na residência do atual, ninguém sequer tocou no assunto da próxima
reunião da Casa dos Edis; que o atual Prefeito é pessoa desprendida dos doces
sabores palacianos, a ponto de não preocupar-se com o principal opositor, pelo
menos, nas duas próximas eleições? Claro que não trataram do assunto, pois
pensar o contrário é fruto da mais absurda maldade da oposição! Claro que o
Prefeito é neutro (sempre e eternamente, como cabe aos chefes do poder
executivo, compreensivo que são na superior doutrina de Montesqueiu, quem
ensinou da independência e harmonia suprema entre os poderes do Estado, e
avesso supremo a tudo o que ensinou Maquiavel, em seus impertinentes conselhos
ao Príncipe). Óbvio que o Presidente
da Câmara não saiu por derradeiro da casa do Prefeito porque planejava os
meandros dos engenhos regimentais às minúcias, avocando os fundamentos
jurídicos necessários para indeferir pedido formulado pelo acusado de adiamento
da sessão em homenagem ao sagrado e Constitucional direito do contraditório e
da ampla defesa (claro que foi coincidência que o tal pedido de adiamento
efetivamente tenha ocorrido, pois é maldade pensar que cidadão tão alvo e puro
de propósitos pudesse sequer imaginar ação tão ardilosa). Esqueçamos de que o
edil em questão é advogado, pois como ele mesmo afirmou, é cônscio dos deveres
inerentes à sua atuação parlamentar que irá tomar a efeito todas as ações como
Chefe do Poder Legislativo local. É a inveja de seus adversários que faz
imaginar maldosamente que ele leve em conta o fato de ser o maior aliado do
atual Prefeito, defensor maior na Câmara de seus interesses; que jamais tenha
recebido ou trocado favores políticos com o mesmo, posto que em verdade se
recusa veementemente a receber as benécies inerentes ao cargo conquistado com
mais de três mil votos conscientes do superior eleitorado cratense. Que estas
coisas aconteçam em Brasília, talvez; no Cratinho de Açúcar jamais!
Como duvidar do conteúdo da denúncia formulado
contra o ex-Prefeito? É inconteste a ausência de atenção dos técnicos do
Tribunal de Contas (que tamanha ingenuidade a deles, terem sugerido a aprovação
das contas!), que distraidamente avaliaram com descuido os terríveis fatos
afirmados anteriormente junto à Corte de Contas. É muito trabalho para eles!
Pois graças ao bom Deus temos valiosos Vereadores, que sem cobrar qualquer
quantia ao Prefeito, conscientemente vislumbraram as irregularidades praticadas
pelo antigo gestor, confirmaram a gravidade de seu conteúdo, e com absoluta
isenção cassaram-lhe os direitos políticos por longos oito anos. É mera
coincidência (não maldemos, senhores leitores, pois a maldade é ardil do coisa
ruim!) que os vereadores com superior consciência foram os da bancada
governista e os energúmenos que não conseguiram enxergar a clara verdade por
detrás das denúncias foram os da oposição. É outra ardilosa artimanha da
oposição dizer que o conteúdo destas denúncias não foram sequer divulgados; as
provas de suas ocorrências jamais chegaram ao conhecimento do público e que o
ex-Prefeito não pôde defender-se de maneira apropriada. Causa repugnância
pensar que no Crato existam pessoas desta extirpe, desta que duvida da serena e
superior consciência de nossos Vereadores, cientes que são de todas as coisas;
postos, como ao próprio Deus, acima do bem e do mal!
Pior é pensar que o Prefeito Municipal, empresário
sério, cidadão honesto, seria capaz de desapegar-se de valiosa quantia para
fazer parte em artimanha de tão ignóbil grandeza. Muito menos que estes valores
nem precisariam sair de seu atento bolso mercantil, mas de fraudes em processos
de licitação (não se pode imaginar que existam fraudes em licitações em Crato,
pois todos os certames são fruto da mais isenta e justa escolha, consequência natural
da aplicação dos sapientes princípios que norteiam as licitações país afora.
Ora, como no Brasil não há fraudes em licitação, é induvidoso que por aqui
estas inexistam!). Pelo amor aos santos, que não passe pela cabeça doentia do
leitor que o Prefeito seja capaz de trocar funções temporárias e cargos em
comissão por apoio político dos vereadores (nunca, nem em campanha prometeu qualquer
emprego em troca de votos!); que tenha autorizado contratos fora dos estritos
padrões legais, pois tal não há nem nunca houve no Crato de Frei Carlos Maria
de Ferrara, seu incorruptível fundador! Muito menos que as elites locais tenham
algo que ver com o processo de degredo desta nossa cidade, tão corrompida
quanto o sítio histórico já demolido diante do torpe silêncio de nossas
autoridades.
Louco, sim, é este pobre cronista, que ousa lançar
pensamentos tão vis sobre questões tão sérias; esquecendo da sua pequenez diante
do poder local, do sentido de vingança que alimenta as nossas elites; de
tantos, como José Marrocos, que aqui foram torturados moralmente porque ousaram
afirmar em desfavor dos de sangue nobre,
detentores supremos das verdades, do poder e das tradições locais; eles mesmos
que pela sua soberba, ao mesmo tempo em que vilipendiaram a honra dos
verdadeiros heróis cratenses, hoje totalmente esquecidos da nossa população, os
soterraram com os escombros produzidos pelas suas seguidas e irresponsáveis
ações, no final matando a todos, eles próprios e a orgulhosa Vila Real do
Crato. Pois que me perdoe esta gloriosa elite por estas palavras de fraqueza;
pelo título impertinente; pelos questionamentos inapropriados. Pois o certo é
que estas coisas até podem acontecer em Brasília. No Crato, da heroína Bárbara,
do honesto Felício e do valente Tristão, não!
A gaiola das hienas, daquelas feras terríveis que
parecem rir ao atacar e devorar suas vítimas não fica na Câmara Municipal de
Crato, mas talvez na fictícia cidade de Matozinho, lugar comum a todos os
interiores do nordeste.
Jorge Emicles Pinheiro
Paes Barreto.