COLAPSO DAS ELITES CRATENSES
Quanto mais absurdos verificamos na administração
da coisa pública em Crato, mais nos convencemos da evidência de que esta terra
paga pala arrogância, preconceito e grosseira miopia de todas as gerações de
pseudo líderes que teve nas últimas décadas. Nosso povo é vítima da prepotência
de suas elites política, econômica e intelectual que por motivos egoísticos e
inconfessáveis deixaram passar o bonde da história e com ele o do
desenvolvimento e progresso. Em todos os níveis erramos enquanto povo na defesa
dos verdadeiros interesses da coletividade. Ainda assim, causa especial espanto
o conjunto de abusos praticados no âmbito do Poder Legislativo local, por
intermédio da mesa diretora da câmara municipal.
Já em janeiro, nós mesmos denunciamos publicamente
que o presidente daquela Casa havia espuriamente demitido todos os servidores
efetivos daquele poder, mesmo sabendo que tal não seria jamais lícito ao
arrepio do exercício dos sagrados direitos do devido processo legal, do
contraditório e da ampla defesa (assim agiu por meio da Portaria nº 06/2013,
sem sequer consultar o plenário). Não satisfeito, recontratou os mesmos
exonerados, só que agora com vencimentos menores, em clara afronta ao que
determina o art. 37, XV, da Constituição Federal, o qual expressa a reconhecida
fórmula de que “o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e empregos
públicos serão irredutíveis”. Talvez fosse mais correto se o nosso Constituinte
houvesse afirmado a exceção a esta regra para os servidores de Crato, já que
nossos líderes são muito competentes em negar vigência a diversos dispositivos
da Constituição Federal. E assim o fez para manter integrais os subsídios dos
próprios vereadores, que tinham sofrido aumento abusivo na legislatura
anterior, pois foi concedido o reajuste sem levar em conta a ausência de
dotação orçamentária suficiente, elemento que somente atingiram pela vergonhosa
diminuição da remuneração dos servidores da qual tratamos (tal prática é
tipificado como crime de responsabilidade fiscal, previsto expressamente na
também conhecida Lei de Responsabilidade Fiscal). Pois em Crato, o Robin Hood
de plantão tira dos pobres para o regozijo dos ricos. Agora, pretende o
presidente do legislativo local concluir sua série de abusos, demitindo
definitivamente servidores que há pelo menos dezesseis anos trabalham para o
legislativo, havendo mesmo casos de pessoas com vínculo de emprego há mais de
vinte e cinco anos (portanto, anterior mesmo à Constituição de 1988).
Naquela época, juntamente com a denúncia, já
afirmávamos nosso absoluto descrédito nas autoridades constituídas de todos os
níveis, razão porque antecipadamente denunciamos que tanto o Ministério Público
como a própria OAB se calariam em afrontosa cumplicidade contra tais descasos.
Do Ministério Público tivemos notícia de um tal Termo de Ajustamento de
Conduta, que servirá de justificativa para que o presidente da Câmara demita
definitivamente o pessoal daquele Poder. Mas para que Secretaria de Vara foi
distribuída a Ação Civil Pública para apurar a afrontosa improbidade
administrativa praticada pelo presidente da Câmara, tanto porque demitiu servidores
sem permitir qualquer direito de dessa, quanto porque se beneficia de uma
remuneração imoral e também ilegal? A verdade é que não existe nenhuma ação judicial
para apurar qualquer improbidade (ou se existe, que se dê notícia da mesma!),
como se o Ministério Público, diante de flagrante ilegalidade pudesse dispor
sobre a conveniência de ajuizar ou não o remédio legal apropriado. Já da OAB
local, verificamos o sepulcral silêncio, tal qual fazem os avestruzes que
diante do perigo enterram as cabeças em um buraco almejando assim não serem
percebidos. Definitivamente, a culpa é de todas as elites desta cidade, que
quando não agem criminosamente, se omitem.
Pois já que ações legais não foram tomadas
adequadamente (talvez definitivamente nem sejam) que fique dito publicamente à comunidade
da inarredável necessidade de se reconstruir a sociedade cratense em todas as
suas dimensões, mas a começar pelos poderes constituídos, os quais claramente são
os mais diretos responsáveis pelo tamanho do descaso e falta de compromisso que
vem conduzindo a terra de Bárbara de Alencar ao descalabro da situação
presente. Sempre que nos depararmos diante do abuso do poder, da injustiça, da
criminosa omissão, da vergonhosa cumplicidade e até mesmo da indiferença, que
saibamos que são estas as verdadeiras causas da cidade mau amada, mau cuidada,
cheia de problemas cotidianos na qual enxergamos o Crato modernamente. O
escabroso caso da Câmara Municipal, do qual tratamos, é apenas mais um exemplo
do descaso geral de nossas elites.
A solução está nos meios de participação popular, como
o que presentemente nos utilizamos, pois só nós mesmos, O POVO, podemos colocar
as coisas em situação melhor.
Jorge Emicles Pinheiro
Paes Barreto.