MEMÓRIAS
DA SÍRIA – em homenagem a Adélia Dummar
POESIA
EM PROSA
Mañana, hoy, por tus passos
un silencio, un asombro de esperanzas
como um aire mayor de mano en mano,
de campana em campana!
Madre natal, puño de avena
endurecida,
planeta seco y sangrento de los
héroes!
Quién? por caminos, quién,
quién, quién? en sombra, en sangre,
quién?
en destello, quién?
quién Cae ceniza cae
hierro
y piedra y muerte y llanto y llamas,
quién, quién, madre mía, quién,
adónde?
Patria surcada, juro que en tus
cenizas
nacerás como flor de agua perpetua,
juro que de tu boca de sed saldrán al
aire
los pétalos del pan, la derramada
espiga inaugurada, Malditos sean,
malditos, malditos los que con hacha
y serpiente
llegaron a tu arena terrenal,
malditos los
que esperaron este día para abrir la
puerta
de la mansión al moro y al bandido:
que hábeis logrado? Traed, traed la lámpara,
ved el suelo empapado, vede l huesito
negro
comido por las llamas, la vestidura
de España fuzilada.
Pablo
Neruda
Até parecerá a um vetusto acadêmico, empoleirado
em seus imensuráveis, às vezes ignóbeis, tomos e mais tomos de saberes incertos
e provisórios, que a guerra possa ser uma condição da humanidade; uma
necessidade da criatividade e desenvolvimento da espécie.
Uma passagem para que nos houvéssemos tornado o
que somos.
Até parecerá, ao que de segura distância observe
os escombros de um bombardeio; o caos neurótico dos prédios em ruínas, das vias
sem passagem, da não percepção de pessoas em frenético trânsito; até parecerá a
este incauto que possa existir alguma beleza na deformidade do caos e na
insensatez da morte.
A mudança é filha primogênita da tragédia.
Até parecerá a algum estrategista político que a
conquista da paz impõe o sacrifício da guerra; assim como a descoberta da cura
obriga ao sacrifício das cobaias. Como se o deus de sua irresponsável compreensão
do mundo sacrificasse a muitos pela salvação de tão poucos; sobreviventes pela
condição do egoísmo e indiferença que lhes robustece a personalidade.
A fortaleza da humanidade se consumará na destruição
dos fracos.
Até parecerá a um avarento míope, que a guerra e a
morte são realidades distantes, existentes em mundos de antiga origem,
praticados por povos de estranhas culturas. Alheios que estão à chacina diária
das balas perdidas, dos homicídios famélicos e da generalizada violência simbólica
e física praticadas indistintamente contra a miséria humana; até parecerá que
por detrás da fina capa de ordem e paz das nossas grandes e pequenas cidades que
não se esconde uma tenebrosa e sangrenta guerra, que aprisiona e tantas vezes
nega nossa pequena condição humana.
Vivemos uma guerra silente e perpétua de nós
contra nós mesmos.
Até parecerá que a sucessão das gerações apaga o
holocausto da guerra; que as crianças nascidas após a chacina não se recordarão
em seu sangue dos horrores sofridos pelos seus pais, avós e bisavós. Até
parecerá que os sentimentos não perpassam de geração a geração; que o cheiro
ocre do sangue pisado e podre, temperado pela injustiça da submissa condição de
dominado não eclodirá na memória das futuras gerações, transbordando uma saudade
de lugares desconhecidos; a revolta por situações ignoradas e a necessidade de
reconstruir o que jamais souberam propriamente haver sido destruído.
Nosso destino é o de trilharmos o caminho de volta;
o da nossa origem.
Até parecerá que no escuro rubro de nosso sangue
não passeia a memória da ascendência síria, com suas histórias já a tantas gerações
interrompidas pela violência da guerra; pela separação da parentela desconhecida;
pelo abandono das tradições já perdidas, pelo quase esquecimento do amor à mãe
natal.
Não há nada de novo sob o sol.
Jorge
Emicles